Emilia Pérez – indicado em treze categorias, incluindo Filme, Diretor (Jacques Audiard), Atriz Principal (Karla Sofía Gascón) e Atriz Coadjuvante (Zoe Saldana).
Um poderoso traficante de drogas (Gascón) contrata uma advogada (Saldana) para ajudá-lo a fazer secretamente uma cirurgia de redesignação sexual e passa a viver uma nova vida, deixando para trás as práticas violentas e a família.
Toda temporada de premiações tem o seu delírio coletivo. Filmes como Green Book (2018) e Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (Everything Everywhere All at Once, 2022) – para ficar em exemplos gritantes e recentes – não são necessariamente ruins, apenas não merecem toda a atenção que acabam recebendo. Em 2025, essa situação foi longe demais: Emilia Pérez (2024) é recordista em indicações ao Oscar, Globo de Ouro, Bafta e muitos outros, além de ter levado três prêmios em Cannes. O que é algo inexplicável, já que é um drama exagerado, beirando a farsa, raso e estereotipado, realizado em forma de um musical ruim.
O drama não funciona, o roteiro tem uma série de furos e exageros que já deixam claro não se tratar de uma história real (como alguns têm pensado). Passa longe da comédia, já que não é engraçado, muito pelo contrário. E, como musical, é terrível, com números ridículos e apelativos que não acrescentam nada à trama e nem a fazem avançar. Ter duas músicas indicadas a Oscar mostra como o ano foi fraco na categoria. Para as outras onze indicações, não se tem explicação. Assim como considerar Zoe Saldana atriz coadjuvante, já que ela é obviamente a atriz principal.
Uma coisa deve ser dita: Jacques Audiard queria um tom teatral, como numa ópera, e conseguiu. No entanto, pendendo para uma farsa, com a maior parte sendo filmada em um ambiente fechado. Um diretor francês que se propôs a falar da cultura mexicana sem conhecê-la ou ter ideia da língua falada lá. O resultado é ter grupos locais criticando abertamente a produção, que praticamente não usou mexicanos em sua equipe. E o mesmo acontece na comunidade LGBTQIAP+, que não se animou pela produção ter uma atriz trans no papel título. Afirmam se tratar de uma obra sensacionalista e superficial, um desserviço à causa. Sou obrigado a concordar.