A relativamente curta história dos Beatles (enquanto em atividade) rende análises e comentários interminavelmente. Sempre se encontra material ou assunto. Recentemente, Peter Jackson focou na implosão do grupo, nas gravações do álbum Let It Be, e nos deu o documentário Get Back (2021). Pouco antes, Ron Howard havia feito Eight Days a Week (2016), mostrando como era complicado para os rapazes fazerem turnês, que demandavam uma logística enorme e até disfarces, para driblar a multidão de fãs.
Em 2024, foi a vez de Martin Scorsese revisitar as filmagens feitas por Albert e David Maysles para o documentário What’s Happening! The Beatles in the USA (1964). Para Beatles ’64, as imagens foram restauradas, remontadas e acrescidas de entrevistas atuais, nas quais os Beatles remanescentes e outras figuras importantes falam sobre a influência da banda em suas vidas. O ano de 1964 foi tão importante por ter sido quando eles chegaram aos Estados Unidos, tomando um vulto muito maior do que quando estavam restritos à Inglaterra. O advento da televisão foi fundamental, através do famoso programa de Ed Sullivan.
Atuando como produtor, deixando a direção para o parceiro habitual David Tedeschi, Scorsese consegue reunir gente bacana e conduz as entrevistas, como já fez em outros documentários musicais. Foi fazendo George Harrison: Living in the Material World (2011) que Scorsese e seu então editor, Tedeschi, ficaram próximos de Olivia, a viúva de Harrison, que produz a obra ao lado de Paul, Ringo e Sean Ono Lennon. Tanta gente importante envolvida conseguiu gerar mais material relevante, deixando o resultado, ainda que enxuto, essencial para se entender a época. Mesmo sem querer, os Beatles lideraram um movimento conhecido como “A Onda Britânica”, abrindo as portas dos EUA para outros colegas músicos – além de mostrarem para diversos jovens, dos dois lados do Atlântico, que era possível fazer o que eles fizeram.
É muito interessante ver artistas renomados, como Smokey Robinson e Ronald Isley (dos Isley Brothers), dizerem que se sentiram honrados por terem suas músicas gravadas pelos Beatles em início de carreira e logo viram os papéis se inverterem, com os rapazes de Liverpool virando ídolos deles. Ronnie Spector, da Ronettes, o cineasta David Lynch e o maestro Leonard Bernstein são outros famosos vistos em depoimentos (atuais e da época), todos reforçando a importância dos Beatles para a música e para o mundo. Muita gente tentou pegar carona na fama deles, como o apresentador Murray the K, o que vemos claramente.
É engraçado que discussões sobre qual seria o melhor álbum da banda acabem ficando entre o Álbum Branco e o Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, indicando que essa fase mais madura dos Beatles seria mais importante ou relevante. Beatles ’64 reforça a falta de pretensão e a diversão da fase mais inicial, com sucessos como Love Me Do, Please Please Me, Help! e From Me to You. Gostando-se ou não da música deles, os Beatles têm sua relevância reafirmada de tempos em tempos, o que pode ser conferido no Disney+.
Amo, amo os Beatles. É como ter de novo12 anos de idade.