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Diretor de Halloween agora ataca O Exorcista

Esperaram 50 anos do lançamento de O Exorcista (The Exorcist, 1973) para revisitarem o já clássico longa, essencial em qualquer lista de melhores de terror – ou de qualquer gênero. Chega aos cinemas essa semana O Exorcista – O Devoto (The Exorcist: Believer, 2023), sequência direta para o original que conseguiu um feito inédito: trazer de volta Ellen Burstyn, que viveu a mãe da garota possuída mais famosa da sétima arte. E o acordo financeiro de mais de 400 milhões de dólares garante que a produtora Blumhouse fará uma trilogia, independente do resultado deste episódio.

Em 1973, a menina Regan MacNeil (Linda Blair) brincou com uma tábua Ouija, começou a conversar com um amigo imaginário e logo passou a vivenciar eventos aterrorizantes, como a cama pular do chão. Ela já estava possuída e a situação só piora. A mãe, Chris (Burstyn), desesperada após não ter uma solução médica, apela à Igreja Católica. Entra em cena o Padre Karras (Jason Miller), que se propõe a ajudar e acaba trazendo para o caso o famoso exorcista Padre Merrin (Max von Sydow), até que chegamos ao esperado exorcismo de Regan.

Com roteiro de William Peter Blatty, adaptado de seu próprio livro, o filme fez uma bilheteria fantástica e foi indicado a 10 Oscars, levando dois – Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som. Marcou para sempre a carreira do já saudoso diretor William Friedkin e teve sequências e derivados, como o horroroso O Exorcista II: O Herege (Exorcist II: The Heretic, 1977), o tenso O Exorcista III (The Exorcist III, 1990) e a recente e fraca série da Fox, cancelada após duas temporadas (2016-2017). David Gordon Green, que comandou a trilogia que deu continuidade a Halloween, está à frente aqui. O que é bem desanimador, já que ele matou Michael Myers (em alguns sentidos), principalmente no segundo e terceiro filmes.

O Devoto, primeira parte da trilogia da Blumhouse, começa com um preâmbulo sobre um casal que está esperando sua primeira filha. Treze anos depois, a menina e uma amiga resolvem invocar espíritos na floresta e dão início à trama. É preciso reconhecer que o filme não é a bomba que está sendo descrita lá fora: alguns críticos têm pegado pesado em suas colocações. Isso provavelmente se deve ao amor que todos têm pelo original, e as comparações são inevitáveis. Se não é uma bomba, esse novo capítulo também está longe de ser bom.

Numa coisa as críticas têm razão: Gordon Green não chega ao dedão do pé de Friedkin e o novo longa não tem a emoção, a tensão ou o suspense do de 73, nem de longe. Dessa vez, temos um pouco mais de apelação nos diálogos e na violência gráfica, com direito a mensagem edificante, o que faz até o mais esperançoso dos cinéfilos desanimar. O filme não consegue homenagear o clássico e não produz nada relevante a este universo, ficando devendo em vários sentidos.

Uma coisa que Gordon Green e seus colegas roteiristas parecem querer fazer devido aos tempos em que vivemos é atualizar alguns elementos, como aumentar a participação feminina na resolução dos problemas e abranger mais religiões que apenas a católica. A forma como as coisas se desenrolam, no entanto, deixa a desejar: o pastor presbiteriano, por exemplo, é mostrado como um zero à esquerda. O final, buscando ser impactante, é bem sem pé nem cabeça, inventando novas regras num jogo que acreditávamos conhecer.

Em comparação com o trabalho da jovem Linda Blair, as duas meninas endemoniadas soam bem genéricas – até por serem duas, dividindo o choque que já quase não existe. E não temos menção a Pazuzu, tornando genérico até o demônio. É ótimo rever Ellen Burstyn num papel que amamos, mas ela merecia um filme melhor. Ou bom, ao menos. Leslie Odom, Jr. (Uma Noite em Miami…, 2020) e Ann Dowd (de Hereditário, 2018) entregam boas interpretações e são os únicos dignos de destaque.

Resta saber o que o produtor Jason Blum e Gordon Green estão planejando para as próximas duas partes, garantidas por contrato. Fotografia, design de produção e outros quesitos técnicos funcionam bem, mas precisam de uma boa história. A melhor coisa desse O Devoto é a música tema, aproveitada do clássico: Tubular Bells, de Mike Oldfield. Ou seja: o que é memorável não é novo. Ficam a lembrança da faixa e o medo do que há por vir. Pelos motivos errados.

Entre a possuída antiga e as novas, fique com a original

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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