O Exorcista do Papa
Em 2017, o diretor de O Exorcista (The Exorcist, 1973), William Friedkin, lançou um documentário sobre as experiências de Gabriele Amorth, um padre que era conhecido como “o exorcista do Vaticano”. Ou “o exorcista do Papa”. Ele dizia ter realizado milhares de exorcismos desde que foi incumbido da função, em 1986. Tudo oficial, sob o crivo da Igreja Católica.
Em 2023, chegou a hora de transformar o Padre Amorth em um herói hollywoodiano – no corpo do “gladiador” Russell Crowe, uma escolha bem inusitada. Em O Exorcista do Papa (The Pope’s Exorcist, 2023), conhecemos um personagem bem humorado que pilota sua scooter pelas ruas de Roma entre um atendimento e outro. Ele avalia supostos casos de possessão demoníaca, indica tratamento médico quando é o caso e solicita autorização se comprovar que o exorcismo é a saída.
O roteiro, que diz partir de dois livros escritos pelo próprio Padre Amorth, dá uma grande espetacularizada nas situações mostradas, o que torna bem difícil acreditar que algo daquilo tudo possa realmente ter acontecido. Julius Avery, diretor do divertido e criativo Operação Overlord (2018), não demonstra aqui a mesma sagacidade, empacando no lugar comum e se contentando em dar sustos fáceis no espectador. Crowe está claramente à vontade no papel e poderia ser uma boa vê-lo novamente nele, mas o roteiro teria que ser bem melhor. Quem sabe chamar Friedkin para escrevê-lo?
Ghosted – Sem Resposta
No papel, alguns filmes parecem perfeitos, sem chance de erro. Na realização, no entanto, falta alguma coisa para levá-los mais longe. Ghosted: Sem Resposta (2023) é um exemplo disso. A trama espertinha à James Bond e o carisma de seus astros são desperdiçados numa aventura besta que não decola. O grande número de participações especiais serve mais como distração do que como bônus.
A história, criada por Rhett Reese e Paul Wernick (de Deadpool e de Zumbilândia), nos apresenta a Cole (Chris “Capitão América” Evans), um cara certinho que leva uma vida pacata ajudando os pais na fazenda. Ele conhece uma garota (Ana de Armas, de Blonde, 2022) e, apesar do atrito inicial, eles acabam se acertando. No entanto, Sadie não responde as inúmeras mensagens de Cole e o sujeito decide ir atrás dela, não aceitando o sumiço. Ele logo descobre que a negociante de arte é, na verdade, uma agente secreta.
São quase duas horas no piloto automático, nada de interessante acontece e a química entre Evans e de Armas simplesmente não existe. Tanto faz como isso vai acabar, o espectador não se importa nem se o vilão vencer. Talvez o planeta seja destruído por algum megalomaníaco, mas antes disso temos a oportunidade de ver Evans em um terno bem cortado e de Armas em um vestido maravilhoso. Isso é o máximo de entretenimento que Ghosted vai oferecer.
Um Filho
Depois do sucesso de Meu Pai (The Father, 2020), o diretor e roteirista Florian Zeller partiu para outro familiar, desta vez com um resultado não tão brilhante. Um Filho (The Son, 2022) traz um excelente Hugh Jackman (de Má Educação, 2019) como um executivo num momento profissional fantástico que recebe a inesperada visita da ex-esposa (Laura Dern, de História de um Casamento, 2019) com um pedido de socorro. O filho deles (Zen McGrath, da série Utopia) está cada vez mais isolado, fechado, e a mãe não consegue se relacionar com ele.
O roteiro se debruça em muita coisa ao mesmo tempo ao analisar, principalmente, dois personagens. O Peter de Jackman é um homem forte, aparentemente bem resolvido e de sucesso, apesar de ter tido um pai canalha (Anthony Hopkins, de Meu Pai). Já o adolescente Nicholas tem um pai e uma mãe que o amam e não passa nenhuma dificuldade. No entanto, luta constantemente contra seus demônios interiores e não sabe explicar porque viver é tão sofrido.
Apesar de contar com atuações marcantes, o filme de Zeller pesa a mão no drama e na forma como ele mostra Nicholas, que chega a mudar de expressão em segundos para reforçar o tanto que estaria deprimido. Tudo é bem amarrado e o roteiro acertadamente não fica tentando justificar ou explicar comportamentos, não há uma relação de causa e efeito. O problema é que os personagens não parecem críveis, são apenas convenções para levar o roteiro onde Zeller quer chegar. Ele tem um discurso e usa os personagens para propagá-lo.
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