O Vol. 3 fecha as aventuras dos Guardiões das Galáxias

Depois de inaugurar a Fase 5 com Quantumania (2023), o Universo Cinematográfico Marvel nos traz o fechamento da trilogia dos Guardiões da Galáxia. Esse Vol. 3 (2023) promete, desde as primeiras divulgações, que seria a última aventura da equipe como a conhecemos. O porquê você só descobre assistindo ao filme. E é, felizmente, o melhor da Marvel nos últimos anos, alternando bem os momentos de comédia com os de suspense, drama e ação. Sem forçar, James Gunn mostra novamente o seu talento.

Tendo assumido a direção do departamento criativo da Warner Bros. no cinema, Gunn partirá para um novo projeto estrelado por Superman. Seu último compromisso na Marvel, no entanto, chega agora às telas, e as características que já esperamos estão todas lá, presentes. O humor é bem dosado (algo que Taika Waititi parece incapaz de fazer ultimamente), entra naturalmente na trama e não impede as coisas de andarem. Tudo é muito bem costurado e o que mais impressiona: a habilidade que Gunn, como diretor e roteirista, tem para dividir o tempo de cena entre os personagens, conferindo a importância devida a todos eles.

Ao contrário do Vol. 2 (2017), este tem um centro e acompanha a equipe de forma igualitária, nunca pesando mais para um lado ou outro. Quem ganha mais destaque dessa vez é Rocket (voz de Bradley Cooper), que tem sua origem detalhada para que possamos conhecer melhor o vilão: o Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji, da série do Pacificador). O sujeito tem uma ideia fixa em melhorar as espécies, dedicando-se a pesquisas sobre genética e criando sociedades inteiras. É muito interessante como Gunn aproveita esse maníaco para fazer críticas ao fascismo, à eugenia e a toda a dor que um ditador é capaz de causar a seu povo. Na maioria das vezes, sob a desculpa de querer o melhor para eles. Ou para o todo.

O líder do grupo e capitão da nave, Peter “Starlord” Quill (Chris Pratt), se afoga no álcool para suportar a perda de sua amada Gamora (Zoe Saldaña), e os demais não sabem mais o que fazer. Na falta do casal principal, quem vai assumindo um papel de liderança é Nebula (Karen Gillan), e surge outra ameaça na pele de Adam Warlock (Will Poulter (de Midsommar, 2019). Os vilões fortes causam de fato uma sensação de que tudo pode acontecer e de que todos estão em perigo. E o marketing sobre “a última aventura” faz cada vez mais sentido.

Todo o elenco se sente muito à vontade em seus papéis, até quem está chegando agora. Iwuji é certamente um nome que merece ser acompanhado, enquanto Poulter reafirma que cresceu e amadureceu, deixando para trás os trabalhos mais leves e adolescentes que fazia. Kraglin, papel do irmão Sean Gunn, também ganha mais participação. E as pontas continuam existindo, com Sylvester Stallone mais uma vez marcando presença.

Num filme de James Gunn, especialmente desse universo, o que não poderia faltar são músicas marcantes. Radiohead, Heart, Rainbow, Spacehog, Earth, Wind and Fire, Fait No More, Alice Cooper, Beastie Boys, Florence and The Machine e o grande Bruce Springsteen são alguns dos destaques, e Gunn ainda nos traz de volta a Come and Get Your Love, do Redbone, como que para fechar um ciclo. A tecnologia do tocador de músicas de Quill permite que a trilha passeie entre décadas, buscando o que é mais relevante para os momentos. E os títulos das canções se encaixam perfeitamente com cada sequência, como Creep, que mostra como Rocket se sentia, ou Since You’ve Been Gone, que explicita a agonia de Quill desde a partida de Gamora. A trilha original é assinada por John Murphy, repetindo a parceria do Especial de Festas dos Guardiões (2022).

Ao contrário do insosso Quantumania e do insuportável Thor: Amor e Trovão (2022), Guardiões da Galáxia Vol. 3 consegue um ótimo e balanceado resultado. Mesmo que, como alguns fãs mais antigos e xiitas apontam, não tenha sido exatamente fiel às fontes, como na hora de contar a origem de Adam Warlock ou colocando no meio da história o Alto Evolucionário, inicialmente um vilão das revistas do Quarteto Fantástico. Gunn cumpriu muito bem seu papel e agora parte para encontrar um verdadeiro ícone dos quadrinhos: o azulão da D.C.

Mesmo diferente dos quadrinhos, Adam Warlock ficou bem feito

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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