Halloween Ends faz o que o título promete

Por pouco, o título Halloween Ends (2022) não fica mentiroso. Afinal, o novo longa realmente encerra a história da franquia. Mas quase não é um episódio de Halloween como a conhecemos. Com poucas cenas de Michael Myers, o filme nos apresenta a um novo personagem e perde muito tempo acompanhando-o. E, convenhamos, quem foi ao cinema ver Halloween queria ver Michael Myers trucidando o bom povo de Haddonfield. Dito isso, é preciso reconhecer que o resultado, mesmo cheio de defeitos, é divertido.

Com cara de produção oitentista, que confere um charme à obra, este Halloween fica um pouco perdido, como se tivesse gostado muito de seus novos personagens e se ressentisse de ter que voltar a Laurie Strode. Afinal, se vamos ter um encerramento, precisamos de Laurie, a sofredora senhora atacada em 1978 por Michael quando adolescente que cuidava de crianças no Dia das Bruxas. Ela passou décadas se preparando para reencontrar seu algoz, o que o filme de 2018 nos mostra.

Desconsiderando quase tudo o que foi feito na franquia, incluindo aí as várias continuações genéricas e o reboot de Rob Zombie, o diretor David Gordon Green e seus roteiristas foram beber na fonte, o original de John Carpenter. Passados 40 anos, Myers estava catatônico em um hospital psiquiátrico quando o Halloween de 2018 começa. Em 2021, tivemos a continuação da história em Halloween Kills, com Myers fazendo jus ao título e matando a rodo. A trama poderia ter sido concluída ali mesmo, mas já se sabia que Gordon Green faria uma trilogia.

Quando Halloween Ends começa, Myers (James Jude Courtney) está desaparecido e Laurie (Jamie Lee Curtis) finalmente decide seguir sua vida, dividindo uma casa com a neta (Andi Matichak). Para quem acreditava conhecer toda Haddonfield, uma surpresa: somos apresentados a Corey (Rohan Campbell, de Virgin River), um sujeito problemático, mas de bom coração. Esses quatro personagens são a base do filme. O problema é que o roteiro foca nos dois mais jovens (acima) quando, na verdade, queremos ver o embate dos dois mais velhos.

Um ponto a favor de Halloween Ends é encarar de frente o fato de que Laurie e Michael envelheceram. O assassino está mais devagar, já não é mais aquela máquina de matar. Estranho é isso ter acontecido só agora, já que nada disso era percebido no filme anterior (de apenas um anos atrás). Teria sido a pandemia que debilitou Michael? O crescimento da extrema direita? Não sabemos. Mesmo envelhecida, Lee Curtis continua linda e forte, e por isso sentimos sua falta, já que o roteiro dá mais tempo em cena à neta.

Um recurso amplamente utilizado na ficção é o seguidor que se inspira no psicopata. De Dexter ao talentoso Ripley, muitos já tiveram um aprendiz e Gordon Green brinca com essa ideia. Muitos pontos trazidos pelo roteiro são vistos nessa franquia pela primeira vez, o que traz um gás nessa reta final. Em menos de duas horas, temos uma resolução satisfatória para uma trilogia altamente irregular, concluindo uma franquia de mais de 10 filmes. Até quando esta será de fato a conclusão? Não sabemos. Deve demorar até vermos Michael Myers novamente.

Jamie Lee Curtis segue defendendo o título de Scream Queen

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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