Depois de sete anos, o prequel de uma das séries mais populares da TV chega ao final de sua última temporada fechando pontas soltas em ambas as obras. Quando foi pensada pela primeira vez, ainda durante as gravações da série original, Better Call Saul deveria ser uma espécie de sitcom, contando os casos atendidos pelo advogado de Walter White e Jesse Pinkman, Saul Goodman, que sempre foi uma espécie de alívio cômico em Breaking Bad.
Depois de seis temporadas, a última dividida em duas partes, separadas por apenas algumas semanas, Better Call Saul chega ao fim longe do que foi um dia sua ideia original – que, na verdade, nunca foi às telas. Além de ter a missão de dar fim a personagens somente conhecidos em Better Call Saul e nunca em Breaking Bad, a série se mostra paciente ao montar – e desmontar – cada figura que apresenta. Desde Jimmy McGill, ou melhor, Saul Goodman, a Howard Hamlin, advogado que chegou a ficar “escanteado” em certos momentos da história.
A amarração feita de cada detalhe da história é mérito de Vince Gilligan e Peter Gould, obviamente. Os dois criadores da obra ainda se dão ao luxo de pegar nuances da série-mãe, trazê-las para o prequel (e em certos momentos continuação de Breaking Bad) e ressignificar muito do que se viu na original. Não que Gilligan e Gould recontem a história de Breaking Bad, e sim lançam novos olhares sobre cenários, eventos e, claro, personagens, fazendo o uso de bem construídos fan services rememorando a série que terminou em 2013.
A sexta temporada de Better Call Saul foi dividida em duas partes – uma primeira com sete episódios e outra com seis, mas outra divisão pode ser feita com um trecho inicial de nove e outra de quatro. Isso porque nos primeiros vemos o desenlace dos eventos (e suas consequências) das ações da quinta temporada e isso envolve sobretudo a guerra do cartel na qual Saul se envolve. A partir do 10º episódio, temos cenas em preto em branco e o desenvolvimento de Gene Takovic, persona que Jimmy/Saul encena para fugir da polícia após o desfecho de Breaking Bad, numa espécie de epílogo das duas séries.
Sobre essa dupla (ou tripla) interpretação entre Jimmy, Saul (e Gene), é de se elogiar o trabalho de Bob Odenkirk. O ator consegue transitar entre trejeitos de pessoas completamente diferentes, marcadas por consequências diferentes de um passado em comum e sempre envolvidas por crimes (dos mais leves aos mais hediondos). Bob tem ao seu lado uma Rhea Seehorn (acima), que dá vida a Kim Wexler de forma esplêndida, um casal que poderia ficar marcado na história da TV mundial. Rhea entrega, mais uma vez, um protagonismo que nem sempre se esperava e é dona de ações que acabam impactando determinantemente o verdadeiro “dono do show”.
Better Call Saul fecha o universo de Breaking Bad (que além das séries ainda teve o filme El Camino, de 2019) bem diferente de sua série-mãe. Se uma se prende a ações mirabolantes, um gênio do mal que aparentemente tem controle de tudo e uma grandiosa operação de tráfico, a outra, mais recente, responde a tramas complexas com simplicidade, atos emocionados, arrependimentos e uma história de tribunal. Foram seis temporadas que abrem discussão para “qual série é a melhor”, mas que devem ser consumidas longe de comparações, ainda que isso pareça inevitável, para que sejam contempladas melhor.
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