Paramount conta como foi a produção de seu maior clássico

“Vou fazer uma oferta que ele não poderá recusar”. Em 1972, quando O Poderoso Chefão (The Godfather) chegou aos cinemas, essa frase entrou para a história da sétima arte, sendo usada frequentemente em outros contextos e obras. A referência é óbvia e marcante. Por isso, foi usada no título da minissérie que conta os bastidores da produção do longa, simplificada para The Offer. Criada por Michael Tolkin (roteirista de O Jogador, 1992), a atração é baseada nas memórias de Albert S. Ruddy, responsável pelo Chefão ter de fato sido realizado.

Muitas das histórias da atribulada produção da Paramount já eram de conhecimento público, como o envolvimento com a máfia e a insatisfação causada em Frank Sinatra (vivido por Frank John Hughes, de The Sopranos), que acreditava ter servido como base para o cantor da história, Johnny Fontane. A graça da série é ter costurado tudo e acrescentado outras muitas anedotas igualmente interessantes. E o principal problema é exatamente ser baseada no que Ruddy contou, já que fica tudo com uma tendência a valorizá-lo acima de todos os outros.

No início do primeiro de dez episódios, conhecemos o personagem Ruddy (interpretado por Miles Teller, de Top Gun: Maverick, 2022), um executivo de uma empresa de informática que não poderia estar mais frustrado. Fechado em um escritório, ele passa os dias compilando dados e entregando relatórios. Até que, através de um amigo, toma conhecimento do mundo da televisão e consegue se lançar como roteirista e produtor. À frente de uma série de sucesso, ele abandona o barco para tentar uma carreira no Cinema. Cai em seu colo um livro ainda não lançado, muito comentado, cujos direitos de adaptação foram comprados pelo estúdio.

A partir daí, diversos personagens vão passando pela tela, muitos apenas para permitir que The Offer conte todas as passagens saborosas que guarda. A trama acaba ficando nas costas de Ruddy; do vice-presidente da Paramount, o todo-poderoso Robert Evans (interpretado por Matthew “Ozymandias” Goode); e da secretária Betty (Juno Temple, de Ted Lasso), braço direito de Ruddy que se mostra muito competente. Esses três são os que a série retrata bem, com acertos e erros – apesar de Ruddy sair quase como um super-herói, tamanha a habilidade dele de contornar situações difíceis.

Muitos outros são frequentes, como o diretor Francis Ford Coppola (Dan Fogler, da trilogia Animais Fantásticos); o executivo mala de plantão, Barry Lapidus (Colin Hanks, de Elvis & Nixon, 2016); o presidente da empresa-mãe, a Gulf+Western, Charlie Bluhdorn (Burn Gorman, de Enola Holmes, 2020); e o mafioso Joe Colombo (Giovanni Ribisi, de Ted 2, 2015 – abaixo), a ligação indesejada de Ruddy com o crime. O mais estranho é ver celebridades que temos frescas na memória sendo vividos por outros atores, como Marlon Brando (Justin Chambers), Al Pacino (Anthony Ippolito) e o escritor Mario Puzo (Patrick Gallo).

A forma como alguns deles são retratados pode incomodar. Coppola, por exemplo, fica parecendo um novato bobinho que se assusta com tudo o que acontece. Ruddy precisa ficar pedindo um voto de confiança a cada problema que aparece, e não são poucos. O chefão Bluhdorn é um tanto caricato, o que não significa que ele não fosse na vida real, mas fica caricato. Assim como o chato Lapidus, destinado a estragar a festa. Alguns, no entanto, se destacam, caso principalmente de Goode e Temple, ambos em composições tridimensionais. Entre os coadjuvantes menos frequentes, chama a atenção Joseph Russo (de O Irlandês, 2019), que traz bastante intensidade ao assassino “Crazy” Joe Gallo.

Para quem nunca viu O Poderoso Chefão, The Offer pode tanto ser mais interessante, já que não se sabe os finalmentes, quanto menos, por não ter tanto apelo. Para os fãs, certamente trará histórias curiosas e metáforas discretas, comparando o filme com os responsáveis por ele. Pode-se inclusive perceber críticas feitas à Hollywood de novo, que parece hoje mais apagada do que era nos anos 70. Evita-se aqui recriar as cenas do clássico, o que seria um tiro no pé por ficar obviamente inferior. E a trilha sonora fantástica soma-se aos demais acertos, fazendo com que você não possa recusar assistir aos dez episódios.

As recriações da época ficaram fantásticas

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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