Depois de uma bem-sucedida adaptação em 1947, o romance Nightmare Alley, de William Lindsay Gresham, chega aos cinemas novamente: O Beco do Pesadelo (2021). Dessa vez, pelas mãos do roteirista e diretor Guillermo del Toro, recentemente premiado por A Forma da Água (The Shape of Water, 2017). E, no papel que já foi de Tyrone Power, temos um Bradley Cooper afiado, cercado por ótimos atores num elenco que é provavelmente o melhor do ano.
Dividido em capítulos que seguem as cartas do Tarot, o livro foi publicado em 1946 depois de um longo período de gestação. Gresham havia sido voluntário durante a Guerra Civil Espanhola e, lá, conheceu um ex-funcionário de circo que contou um pouco de suas experiências. O jornalista, então, criou um protagonista que, à procura de emprego, chega a um circo e é contratado como ajudante dos artistas. Fazendo amizade com a mentalista da equipe, ele logo aprende os segredos do número de leitura de mentes.
Buscando aplicar o que aprendeu, Stanton Carlisle (Cooper, de Nasce Uma Estrela, 2018) deixa a trupe e vai para a capital, levando consigo a bela “garota elétrica”, Molly (Rooney Mara, de Maria Madalena, 2018). Juntos, Stan e Molly fazem diversas apresentações e caem nas graças da alta roda da sociedade. Mas o ambicioso Stan não fica satisfeito e começa a buscar golpes mais elaborados, que envolvem a suposta invocação de falecidos. Ele se justifica dizendo que, assim, traz paz aos vivos.
Ajudando del Toro a contar essa história (coescrita por Kim Morgan), temos grandes nomes do Cinema, como Cate Blanchett (de Não Olhe Para Cima, 2021), Willem Dafoe (o Duende Verde de Homem-Aranha), David Strathairn (de Nomadland, 2020) e Toni Collette (de Estou Pensando em Acabar com Tudo, 2020), para ficar nos de maior importância para a trama. Com o avanço da sessão, outros vão aparecendo, com boas surpresas guardadas. Ninguém está menos que fantástico, incluindo os que têm menor participação ou são menos lembrados pelo público, como Holt McCallany (de Infiltrado, 2021) e Paul Anderson (de Peaky Blinders).
Outro ponto muito relevante é a fotografia de Dan Laustsen, frequente colaborador do diretor (também de A Forma da Água). O ótimo contraste de luz e sombras traz aquele clima clássico do Cinema noir. O protagonista, no entanto, foge dessa fórmula consagrada, passando longe de ser o durão de bom coração. A jornada de Carlisle é muita rica e Cooper se mostra à altura para a missão, com uma estética impecável à Clark Gable ajudando a compor o personagem.
A duração de O Beco do Pesadelo pode ser um ponto negativo, com suas duas horas e meia de projeção. Talvez devido à estrutura do livro, o filme também parece dividido em capítulos, e corre o risco de ficar cansativo. No entanto, as viradas da trama e as muitas qualidades da obra devem te segurar acordado sem dificuldades, além de trazer, ao final, algumas reflexões sobre a natureza humana.
Fala, Marcelo! Sua respeitável crítica, como sempre, muito boa. O filme é mais arrastado ainda se compararmos à montagem de 47. Del Toro não domina o noir, está claro. Além disso, o elenco original é imbatível. Em seu melhor papel, Tyrone Power havia regressado da guerra e queria atuar de verdade. Curioso é o Bruno original, a cara do Bruno. Ainda assim, respeito a refilmagem, pois o que vemos é o cinema como o cinema deve ser. Cinema raiz. Rs. Fraterno abraço.
Muito obrigado, Roberto! Pela visita e pelo rico comentário! Abraço!