A exemplo do que vimos em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings, 2021), esta quarta fase do Universo Cinematográfico da Marvel está cada vez mais longe da realidade, mais fantasiosa. Chegou a vez de Eternos (Eternals, 2021), seres que vivem secretamente na Terra há milhares de anos para cumprir os desígnios de seu criador, um Celestial. Por essa rápida descrição, dá para perceber se tratar da obra mais viajada do MCU. E a culpa disso não é do filme, mas da fonte: os quadrinhos.
Criados em 1970 por Jack Kirby, os Eternos seguiam uma onda que estava popular nos livros de ficção-científica relacionados a deuses e ao espaço, muito desenvolvida pelo escritor Erich von Daniken. Teria a tecnologia da Terra bebido em águas alienígenas? Os Eternos teriam nos influenciado bastante desde o início dos tempos (os nossos), e percebemos isso por exemplo no mito grego de Ícaro – um dos principais Eternos chama-se Ikaris. Os gregos foram altamente influenciados por eles.
Essa influência já fura de cara o conceito inicial: fica claro que eles interagiram com os terráqueos em diversos momentos. E eles deveriam viver em segredo, aguardando as ordens do Celestial que os criou. A Segunda Guerra teria acontecido usando a tecnologia criada por eles e vários flashbacks mostram alguns deles convivendo com humanos. Thanos apagou metade da população e eles não fizeram nada a respeito para manterem o sigilo, e o filme volta e meia tenta justificar isso. Quando é conveniente, há interação. A regra é: não há regras.
Um universo de fantasia sempre deve deixar claras as suas regras e segui-las. Afinal, esse tipo de obra exige de seu consumidor um salto de fé, o que só é possível se, dentro daquela lógica, as coisas fizerem sentido. E essa falta de comprometimento com seus próprios parâmetros incomoda bastante ao longo da sessão de Eternos. E há outro problema: o filme é chato. Pura e simplesmente. Chloé Zhao, a premiada diretora do ótimo Nomadland (2020), está acostumada a dramas intimistas e tenta aqui misturar seu estilo à fórmula Marvel. O resultado é bem diferente do que nos acostumamos a ver, e isso não é necessariamente bom. A trilha e a fotografia são elementos positivos que chamam a atenção, mas não são suficientes.
Os Eternos foram inicialmente enviados à Terra para derrotar os Deviantes, criaturas monstruosas também criadas pelos Celestiais num experimento que deu errado. Eles acreditavam ter acabado com a ameaça há centenas de anos, mas permaneceram na Terra só para garantir (outro buraco no roteiro de Zhao e seus colaboradores). E não é que os monstros aparecem novamente para ameaçar a humanidade? Novos fatos vão sendo jogados na mistura enquanto todos os personagens são apresentados. Eles são muitos, superpoderosos, para os quais não damos a mínima.
O elenco de Eternos é de longe o mais diverso da Marvel, contando com atores de várias etnias. Entre os nomes mais famosos, temos Angelina Jolie (de Malévola: Dona do Mal, 2019), Salma Hayek (de Bliss, 2021), os irmãos em Game of Thrones, Richard Madden e Kit Harington, Kumail Nanjiani (de Um Crime para Dois, 2020), Brian Tyree Henry (de A Mulher na Janela, 2021) e Bill Skarsgård (o palhaço de It, que aqui aparece novamente disfarçado, como o deviante líder). Entre os menos conhecidos, destaque para Barry Keoghan (de O Cavaleiro Verde, 2021), Ma Dong-seok (ou Don Lee, de Invasão Zumbi, 2016), Lauren Ridloff (de The Walking Dead, que é surda como a personagem) e a jovem Lia McHugh (de O Chalé, 2019). Todos muito corretos, mas Jolie (abaixo) rouba as cenas em que aparece – mesmo que fiquemos sem entender direito o que se passa com a personagem. E o humor com Nanjiani é bem forçado.
À frente desse pessoal todo está Gemma Chan (de Podres de Ricos, 2018), como a Eterna que conduz a história e nos leva com ela. Ela é ótima e cumpre muito bem sua função. Só não entendemos por que contratar uma atriz que apareceu recentemente no MCU: ela é a Minn-Erva de Capitã Marvel (2019). Uma ligação entre as duas personagens parece fora de questão. Harington, com quem ela faz par, é um ator claramente mais importante que seu papel, o que deixa claro que aquilo está sendo apenas uma introdução, visando algo mais importante no futuro.
E este é outro problema de Eternos: o filme todo representa um meio do caminho entre produções mais importantes. Outros filmes da Marvel já foram criticados por isso, mas aqui a sensação fica bem palpável. E as duas cenas pós-créditos trazem surpresas calculadas para confundirem a cabeça dos espectadores, que serão obrigados a buscarem sites especializados em quadrinhos para descobrirem do que se trata. Essas cenas são trampolins para outros projetos vindouros que parecem ser mais relevantes. A exemplo de James Bond, os Eternos voltarão. Só não sabemos se em aventura própria ou pegando carona com outros medalhões melhor desenvolvidos.
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