Chega ao final a jornada de Daniel Craig vivendo o espião mais famoso do Cinema. Sem Tempo Para Morrer (No Time to Die, 2021) será a quinta e última aventura do ator como James Bond, com o recorde de 16 anos no papel. Essa história começou em 2006, com Cassino Royale, e Craig já se acha muito velho para se exercitar o suficiente para ficar em forma para todas as cenas de ação. Esse filme foi o que supostamente contou com mais aparições de dublês, mas nada que fique aparente em cena. Só fica claro o sentimento de encerramento.
Na trama, temos um Bond aposentado, vivendo de renda, mas nunca relaxado. Seu passado exige que ele sempre olhe para trás, esperando um ataque surpresa, um antigo desafeto vindo buscar vingança. No entanto, quem aparece é o amigo Felix Leiter (pela terceira vez vivido por Jeffrey Wright), pedindo ajuda em uma missão um tanto suspeita. Em várias situações, os serviços secretos inglês e americano colaboraram, mas essa não é uma delas. Leiter busca capturar um cientista que pode estar criando uma arma poderosa com o envolvimento do MI6, antigo empregador de Bond.
O roteiro tem momentos bem corajosos, como por exemplo quando coloca frente a frente James e Mallory, ou simplesmente M (Ralph Fiennes), e a conversa sai do zero a zero respeitoso para acusações bem sérias. Afinal, o antigo 007 não deve mais satisfações a seu ex-chefe. E, curiosamente, temos uma nova agente 007 (Lashana Lynch, de Capitã Marvel, 2019), que parece ser muito competente e mereceu pegar a licença para matar que estava sobrando. Além dos dois roteiristas tradicionais da série, Neal Purvis e Robert Wade, o longa conta com o diretor contribuindo no texto, Cary Joji Fukunaga (de True Detective), além da ótima Phoebe Waller-Bridge (de Fleabag), que teria sido convidada pelo próprio Craig para trabalhar os diálogos.
Outra que teria entrado no projeto a convite do protagonista é Ana De Armas, que esteve com ele em Entre Facas e Segredos (Knives Out, 2019). Ela é de longe uma das melhores coisas do filme, o único defeito é ter pouco tempo em cena. Mas faz valer cada segundo. Outra atriz importante é Léa Seydoux, que volta como Madeleine Swann, cuja presença no cartaz já deixa clara sua relevância. Talvez seja influência de Waller-Bridge, nunca saberemos, mas Sem Tempo Para Morrer deve ser o episódio menos sexista de James Bond, em todos esses 25. Seydoux tem grande peso para a trama, e logo atrás vêm Lynch, De Armas e Naomie Harris, a Ms. Moneypenny.
É engraçado que, ao mesmo tempo em que as mulheres têm uma presença impactante no longa, os homens são cada vez mais falhos. O próprio Bond é marcado por incertezas, deixando de ser aquela infalível máquina de matar. Mallory, o chefe de todo o serviço de espionagem, faz cagada e espera as consequências – a não ser que Bond consiga jogar tudo para debaixo do tapete. Leiter busca a ajuda do amigo por não conseguir resolver sozinho. O brilhante Q (Ben Whishaw) revela finalmente sua orientação sexual, que ele parecia manter longe do escritório, e o grande gênio do crime, Blofeld (Christoph Waltz), não está exatamente num bom momento. E temos Billy Magnussen (de Aladdin, 2019), um bobo alegre fã de Bond que acaba sendo uma boa adição ao caldo.
Se não mencionei o vilão até agora é porque realmente é algo duro de engolir. Rami Malek ganhou um Oscar como Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody (2018), mas é fato que ele se repete demais, suas habilidades como intérprete são bem limitadas. Para quem tem uma mínima lembrança do Silva, de Javier Bardem (de 007 – Operação Skyfall, 2012), fica bem difícil aturar uma figura caricata dessas. E o nome é Lyutsifer Safin, numa tentativa safada de evocar o próprio capeta. O sujeito desenvolve uma arma meticulosa, para matar alvos específicos, mas visa massas. Não dá para entender! Nada do que envolve Safin fica claro.
Outro ponto que sempre chama a atenção em um filme de Bond é a música-tema. Já tivemos canções marcantes que mereciam prêmios, como Live and Let Die, Goldfinger ou A View to a Kill. Mas só Adelle, com Skyfall, levou um Oscar, sendo seguida pelo insosso Sam Smith e sua Writing’s on the Wall, inexplicavelmente também premiada. Para No Time to Die, temos a artista da moda Billie Eilish, que murmura o tema parecendo um gato preso no telhado. Uma franquia que já produziu músicas tão boas não deveria cair em armadilhas assim. O fracasso é tão descarado que os produtores voltam a We Have All the Time in the World, lindo tema secundário gravado por Louis Armstrong para 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade (On Her Majesty’s Secret Service, 1969), que acaba sendo muito mais marcante.
Algumas falhas de roteiro acabam sendo desculpadas nas mais de duas horas e quarenta minutos no que é o mais longo filme de James Bond. Isso, porque Craig se despede com muita diversão, ainda mais numa tela IMAX e para quem estava afastado dos cinemas há muito tempo. É provável que, até escolherem outro intérprete para o icônico personagem, ficaremos um tempo sem vê-lo nas telas. E Daniel Craig foi uma ótima aposta, se encaixou muito bem. Seguindo a tendência, teremos novos M, Q, Moneypenny, Leiter, Blofeld, o que marca o fim de uma era. E Craig sai como um Bond do porte do já saudoso Sean Connery.
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Eu não entendo como foram escolher um ator tao sem graça e tem cara de russo inespressivo..
Para min o melhor foi o Sean Connery...lnigualavel com cara de um verdadeiro agente secreto ...