Jason Statham é o Infiltrado de Guy Ritchie

Dezesseis anos depois, Guy Ritchie e Jason Statham voltam a trabalhar juntos, já a quarta colaboração. Com menos cara de filme independente que os anteriores, Infiltrado (2021) traz uma trama simples para a qual o título original faz muito sentido: Wrath of Man, já que se trata basicamente de uma história sobre a ira de um homem. Passamos quase duas horas vendo o protagonista quebrando tudo e todos.

No início, conhecemos Patrick Hill (Statham), que se inscreve para uma vaga numa empresa de transporte de valores. Logo apelidado pelo novo colega de trabalho, H passa a fazer suas tarefas silenciosamente até que uma tentativa de assalto a seu carro forte faz o sujeito revelar um grande talento no manejo de armas e em execuções sumárias impecáveis. Com testes de contratação com resultados medianos e um passado profissional morno, fica claro que H está escondendo algo. Não satisfeito, o título nacional aproveita para escancarar o fato.

As surpresas que o roteiro guarda são interessantes, mas a execução é o que mais chama a atenção. Ritchie se mostra muito seguro e seu ator principal confia bastante nele, o que beneficia o projeto. O tom é um tanto monótono, não há humor ou mesmo reviravoltas. Apenas vamos recebendo mais elementos e formando o quadro geral. Acabamos conhecendo melhor os demais personagens e desconfiamos das reais intenções de cada um, o que movimenta as coisas.

Statham chama quase toda a atenção para si, seja por ser o protagonista, seja por ser enorme. Mas fica também um espaço para Holt McCallany, o agente Tench de Mindhunter. McCallany dá o peso ideal para seu personagem, um colega mais experiente que serve como mentor para H. Outro que aparece em boa forma é o sumido Josh Hartnett (de Penny Dreadful), que pegou um papel menor e ainda assim consegue deixar uma boa impressão. Participam também os veteranos Andy Garcia (de Tempestade, 2017) e Eddie Marsan (de Magnatas do Crime, 2019), além de Jeffrey Donovan (de Ted Bundy, 2019), Laz Alonso (de The Boys) e Raúl Castillo (de Army of the Dead, 2021). Só quem não convence é o bonitinho Scott Eastwood (de Velozes e Furiosos 8, 2017), que faz um psicopata estereotipado e previsível.

Alternando trabalhos mais e menos autorais, Ritchie vem da dobradinha Aladdin e Magnatas do Crime (The Gentlemen), ambos de 2019. Para Infiltrado, foi buscar inspiração no Cinema francês, mais especificamente no longa Assalto ao Carro Forte (Le Convoyeur), de 2004. Apesar de um ser remake do outro, os dois têm diferenças grandes entre eles. Mesmo não estando ligado ao terceiro Sherlock Holmes, depois de ter dirigido os dois primeiros, o futuro de Ritchie reserva a ele outra continuação, voltando ao universo do gênio da lâmpada mágica. Infiltrado será o último policial do diretor por um bom tempo.

Scott Eastwood fica só nas caras e bocas

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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