Mais um filme de origem de um vilão Disney chega às telas. E, a exemplo de Malévola (Maleficent, 2014), temos uma atriz premiada à frente do elenco. Cruella (2021) se propõe a explicar como surgiu a milionária louca por pele de cachorro do desenho clássico Os 101 Dálmatas, lançado em 1961. Emma Stone (de La La Land, 2016) dá show no papel-título, mas o longa tem várias outras qualidades que compõem um resultado divertido e criativo. E consegue o mais difícil: agradar a diferentes faixas etárias.
Nessa onda de filmes com atores baseados nos desenhos Disney (os chamados live action), tivemos recentemente Aladdin (2019), Mulan (2020), até O Rei Leão (2019, todo em computação gráfica). Voltando um pouco mais, vemos que essa febre não é novidade: Peter Pan (2015) conta a história do Capitão Gancho, assim como Hook – A Volta do Capitão Gancho (1991). Entre versão live action, filme de origem e sequência, o que não falta é opção.
O próprio Os 101 Dálmatas teve uma adaptação de carne e osso em 1996. Glenn Close fez tanto sucesso como Cruella DeVil que garantiu uma sequência em 2000. Na versão mais jovem da personagem, Stone não deixa nada a desejar, praticamente vivendo duas personalidades no mesmo corpo: ela é Estella, uma menina humilde que perde a mãe e passa a se virar nas ruas; e é Cruella, nos momentos em que não pretende ser tão bondosa. A explicação para essa divisão é crível o suficiente, assim como para o nome dela.
Entre pequenos golpes, Estella passa os dias com os comparsas Jasper (Joel Fry, de Yesterday, 2019) e Horace (Paul Walter Hauser, de O Caso Richard Jewell, 2019). Enquanto um é esperto e bola formas de ganhar dinheiro, o outro é uma porta – o que repete a dinâmica do desenho original. Quando Estella começa a trabalhar em uma loja de roupas, conhece a poderosa estilista conhecida como Baronesa (Emma Thompson, de MIB Internacional, 2019) e segredos virão à tona. É a deixa para termos figurinos fantásticos aparecendo.
As coincidências do roteiro são muitas, mas não chegam a incomodar. E a poderosa direção de Craig Gillespie (de Eu, Tonya, 2017) nos dá cenas bem pensadas, longas sequências sem cortes e ainda um ar rock ‘n’ roll que permeia a produção. A ótima trilha sonora é usada de forma acertada, se alternando entre músicas muito conhecidas e outras nem tanto, e não cansa ou rouba para si a atenção (como em bombas do naipe de Esquadrão Suicida, 2016). Mas o maior responsável por esse clima é a postura de Cruella, praticamente uma rockstar da moda que causa tanto barulho quanto, digamos, os Sex Pistols.
O embate entre as Emmas oscarizadas (Stone e Thompson) é bonito de se ver. A Baronesa evoca algo de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006), mas a interação das duas segue por um caminho original e ganha vida própria. Fry e Hauser funcionam muito bem como alívio cômico e Mark Strong (de Shazam!, 2019), mesmo mais discreto, é sempre uma figura forte em cena. Cruella já ganhou tantos elogios por aí que uma sequência está confirmada, outra desnecessária oportunidade para encontrarmos a personagem pré-dálmatas. Se mantiver o padrão da primeira, fará tanto público quanto.
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