É comum acompanhar dramas pesados sobre guerrilhas, crimes de guerra, esse tipo de coisa, com muitas injustiças e mortes. Grandes diretores se enveredaram por esses caminhos, como Oliver Stone, Costa Gavras, entre outros. Mas um filme de terror nessa linha é algo raro e, no caso de La Llorona (2019), muito bem-vindo. A produção da Guatemala surpreende trazendo o sobrenatural para uma história muito humana: a busca por uma condenação de um ditador em seus últimos dias.
Quando La Llorona começa, conhecemos Enrique Monteverde (Julio Diaz), ex-ditador da Guatemala acusado de comandar um genocídio de nativos no início da década de 80. O veredicto de culpado foi contestado e ele saiu livre do tribunal para casa. Indignada, parte da população vai para a porta em protesto e os muitos empregados da mansão ficam com medo da multidão e saem. Só a fiel Valeriana (María Telón) fica e recruta uma novata (María Mercedes Coroy, as duas abaixo) para ajudá-la.
A família Monteverde ainda conta com a resignada esposa do general, Carmen (Margarita Kenéfic), a filha deles, Natalia (Sabrina De La Hoz), e a neta pequena, Sara (Ayla-Elea Hurtado). O que precisamos saber a respeito deles vai sendo mostrado ao mesmo tempo em que descobrimos os fatos do tal massacre. O pano de fundo político faz com que o longa vá mais longe em seu impacto que a maioria das produções atuais, principalmente as de terror. E a outra versão recente da história da Chorona, A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona, 2019), não chega nem no dedinho do pé desta.
Se, por um lado, a fotografia do filme fica restrita à casa, por outro, o diretor Jayro Bustamante aproveita para explorar bem o imóvel e criar suspense dali. Bustamante ainda acumula os papéis de corroteirista, produtor e montador, sendo o responsável direto pelo sucesso do longa. O clima de tensão é palpável, as situações são críveis e não há nenhum personagem burro fazendo coisa errada – tipo correr sozinho pela floresta. Temos a questão política se misturando à lenda local, Bustamante trabalha o papel do “cidadão de bem” e traz elementos da cultura local, inclusive a língua kaqchikel, muito falada na região central do país.