Pelos três primeiros episódios, dá para perceber que a nova atração não pega carona na anterior. Ao invés de uma cidadezinha costeira, temos Nova York, grande metrópole com seus prédios enormes e suas escolas elitistas. Novamente, Kidman é casada com um homem importante, o Dr. Jonathan Fraser (Hugh Grant, de Magnatas do Crime, 2019), e eles têm um filho (vivido por Noah Jupe, de Um Lugar Silencioso, 2018). As semelhanças param por aí.
A série começa nos apresentando à rotina da família. Enquanto o oncologista deixa o filho na escola e segue para o hospital, a psicóloga Grace vai para o consultório atender. Entre as sessões dos clientes, ela consegue tempo para se reunir com outras mães para combinarem eventos beneficentes para arrecadar fundos para uma escola que parece já ter tudo.
Numa dessas reuniões, Grace conhece Elena (a italiana Matilda De Angelis), uma mãe mais jovem e linda que parece deslocada entre as demais dondocas do grupo. A partir daí, desenrola-se um suspense envolvente, muito bem trabalhado pela diretora Susanne Bier – que vem de outro sucesso na TV: O Gerente da Noite (The Night Manager, 2016). Tudo é muito elegante, com figurinos, ambientes e enquadramentos que reforçam o luxo da vida daquela família e seus pares.
Com apenas seis episódios, todos dirigidos por Bier e escritos por Kelley (a partir do livro de Jean Hanff Korelitz), The Undoing segue num ritmo interessante, com muita coisa acontecendo em cada capítulo. Sem entrar em detalhes, pode-se dizer que Grace não tem ideia do que a espera, e a história se torna bem mais interessante que Big Little Lies e não tem os furos e exageros de outro destaque recente, Little Fires Everywhere (2020).
Além dos já citados, o elenco ainda conta com Edgar Ramírez (de Wasp Network, 2019) e o ótimo veterano Donald Sutherland (de Ad Astra, 2019). Liderando esse grupo notável, Kidman está muito bem, como sempre, numa atuação delicada, focada nos detalhes. E ainda canta a música-tema, uma nova versão da clássica Dream a Little Dream of Me. Grant não fica atrás, compondo um sujeito sensível e muito crível. De Angelis (acima) não precisa fazer muito para chamar a atenção, tamanha a sua beleza.
É engraçado como o mau hábito adquirido em serviços de streaming faz o público ficar desacostumado de ter que esperar uma semana por um novo episódio. Resta torcer para que as demais partes de The Undoing sigam pelo mesmo caminho, mantendo o nível do início. Dessa forma, a HBO vai sempre conseguir viciar seus espectadores, e sem precisar gastar a fortuna de um Game of Thrones.
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