por Marcelo Seabra
A HBO segue lançando séries para atrair quem está em casa, e as apostas não são baixas. A nova I Know This Much Is True (2020) traz Mark Ruffalo (o atual Hulk da Marvel) em papel duplo e o ator está ótimo em ambos. Na direção e roteiro dos seis episódios, temos Derek Cianfrance, que adapta o livro de Wally Lamb, creditado como produtor executivo. A atração, que tem tudo no lugar certinho, com uma produção impecável, tem apenas um defeito: a história é deprimente demais!
Apesar de ter outros filmes no currículo, Cianfrance ainda é muito lembrado por Namorados para Sempre (Blue Valentine, 2010), drama badalado que teve até indicação ao Oscar. Tanto esse quanto os demais trabalhos do diretor são muito tristes, com episódios relativamente pouco traumáticos, como o fim de um relacionamento, aos mais complexos, como assassinatos e perdas graves. Lamb criou um protagonista cujo irmão gêmeo é paranoico e esquizofrênico, a mãe foi acometida por um câncer, o pai é desconhecido, o padrasto é abusivo, a filha morreu e a esposa o deixou. É aí que conhecemos Dominick Birdsey, um pintor de paredes vivendo nos anos 90.
Ao contrário do que geralmente é feito quando um ator interpreta dois papéis, Cianfrance não quis ir revezando entre eles. A opção foi filmar todas as cenas de um irmão primeiro, dar tempo a Ruffalo para emagrecer e passar pelas transformações necessárias para só depois gravar a participação do outro irmão. Dessa forma, o ator pôde criar dois personagens distintos e bem ricos, com nuances e trejeitos próprios a cada um. A aposta no nome de Ruffalo em premiações da televisão é certa, talvez como coadjuvante e principal. Ele era fã da obra e foi acertadamente indicado pelo próprio autor.
Além da dose dupla de Ruffalo, o elenco inclui nomes bem interessantes. A mãe, uma figura muito presente, ficou a cargo de Melissa Leo (de O Vencedor, 2010 – ao lado), sempre muito delicada e amorosa, mesmo lidando com situações difíceis. A ex-mulher é vivida por Kathryn Hahn (de Capitão Fantástico, 2016 – acima), enquanto a atual namorada é Imogen Poots (de Sala Verde, 2015). E temos ainda Rosie O’Donnell (de A Escolha Perfeita 2, 2015), Archie Panjabi (de Run, 2020), Juliette Lewis (de Ma, 2019) e Bruce Greenwood (de Doutor Sono, 2019). Nomes não tão chamativos do grande público, mas muito competentes.
Quando a série começa, somos apresentados a todos calmamente, mas logo temos um episódio bizarro: Thomas, o irmão doente, se mutila em sacrifício e é internado num manicômio. Acompanhamos, então, a jornada de Dominick para ajudar Thomas, um martírio que ele conhece desde que nasceu e que já toma por natural. Ruffalo procurava um projeto para poder trabalhar com Cianfrance, que ele admirava, e encontrou o livro perfeito para adaptarem. Triste como o diretor parece gostar. Difícil de assistir, ainda mais em tempos tão desafiadores.