Netflix joga seus espectadores no Poço

por Marcelo Seabra

Uma das mais recentes atrações na Netflix a estrear e a causar um certo barulho, O Poço (El Hoyo, 2019) é o filme que ocupa atualmente o primeiro lugar entre os mais vistos na plataforma. E vem causando um nó na cabeça de quem assiste, já que não é exatamente claro. Ele usa metáforas e simbolismos para deixar muita coisa no ar. Mas é bom chamar a atenção dos mais sensíveis: enquanto ele nos joga em discussões interessantes, usa uma certa dose de violência que pode chocar.

Na linha dos melhores exemplares da ficção-científica, O Poço aponta para alguns problemas da nossa sociedade e propõe uma reflexão. Mas logo se bandeia para o suspense, deixando seu público aflito pelo futuro daquele sujeito que acabamos de conhecer e com quem já nos preocupamos. Goreng (Ivan Massagué, de Os Últimos Dias, 2013) acorda em um andar de algo que parece ser um enorme fosso de elevador, mais amplo e com vários lances acima e abaixo. No meio, um buraco por onde a comida desce. E, do outro lado, o “colega de cela” (Zorion Eguileor, de O Tempo Entre Costuras), um sujeito mais velho que, mesmo irritante, consegue estabelecer um bom convívio com Goreng.

A grande sacada é que a superfície que desce com a comida segue um caminho reto, sem voltas. Só há reabastecimento na próxima volta, e o mesmo rumo é percorrido. Há comida para todos (teoricamente), mas a questão é: as primeiras pessoas lá dentro comerão apenas o suficiente? Elas pensarão no próximo? Conceitos como solidariedade, ética, empatia e responsabilidade social se misturam aqui. Seria o Poço um experimento sociológico? Ou apenas um reflexo da nossa sociedade capitalista? Ou um retrato do que é a relação divino x humano?

O diretor Galder Gaztelu-Urrutia, que faz sua estreia em longas, deu entrevistas contando detalhes da trama, como de onde surgiu a ideia ou para onde ela se desenvolveria. Até um outro final foi filmado, um mais definitivo. Mas só importa o que está na tela e o que conseguimos tirar dali. Se os roteiristas (David Desola e Pedro Rivero) quisessem dar uma explicação, teriam o feito. Para uns, o confinamento no Poço é um castigo. Para outros, parece ser uma opção. Na prática, é a mesma coisa. Todos passam pelas mesmas provações.

No primeiro andar do Centro Vertical de Autogerenciamento, nome pomposo do complexo, estão a administração e a cozinha. Seriam o equivalente a Deus? O chef, responsável pela produção da comida, é extremamente criterioso, zelando por “seus filhos”. Mas é, no mínimo, ingênuo, já que a comida é bagunçada pelos primeiros que a tocam. Seria uma crítica ao Senhor? Ao sistema econômico, que privilegia o 1% de cima em detrimento dos demais? O roteiro não se preocupa em entregar uma resposta pronta. Se o que você procura é uma distração leve, não é aqui que deve procurar.

Seria Trimagasi o personagem mais interessante? Óbvio!

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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3 respostas para Netflix joga seus espectadores no Poço

  1. ILSONBERTO ALEXANDRIAS disse:

    Filme ridículo, sem sentido.. Um dos piores filmes que eu já vi.. Não aconselho, não te agrega em nada.. Sem comentários, Horrível, uma história imbecil e mal elaborada..

  2. RCS disse:

    Filme que leva reflexão da existência….realmente um pouco chocante, distração não é sua praia..

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