Brightburn traz um Superboy mau

por Marcelo Seabra

Todo mundo que leu revistas em quadrinhos quando pequeno, em algum momento, deve ter pensado como seria se o Super-Homem fosse mau. A nave cai na cidadezinha e o casal bonzinho cria o alienígena, que cresce e se descobre muito poderoso. E decide tomar o planeta. Essa é mais ou menos a ideia em Brightburn – Filho das Trevas (2019), longa que leva essa premissa clássica em outra direção usando elementos comuns nos quadrinhos.

Assim como fez a série Smallville, este longa tem o nome da cidade onde a ação se passa. A pequena Brightburn vê os dias caminharem lentamente e o casal Breyer vive tranquilamente em seu casarão, criando galinhas e tudo o mais que fazendeiros fazem. Até o dia em que um estrondo os leva a uma luz no meio do mato e descobrem lá um bebê. Após um salto no tempo, estamos ao início da adolescência do garoto. Objetividade é uma característica do longa, que mal chega aos 90 minutos.

Ao contrário do universo criado por M. Night Shyamalan, concluído com Vidro (Glass, 2019), Brightburn não se parece uma fábula quadrinhística. Ele parte desse ponto para rumar ao terror, passando a ter um clima tenso e a mostrar cenas bem explícitas de violência e mutilação. Esses trechos são, ao mesmo tempo, criativos e nauseantes. Assim como acontece nas revistas, o garoto tem uma amiga que rapidamente se torna uma antagonista, algo como Clark Kent e Lex Luthor. Mas as relações aqui, claro, são bem diferentes. Essa lógica lembra mais Poder Sem Limites (Chronicle, 2012), que faz um estudo do impacto dos poderes sobre garotos e tem um resultado mais instigante.

Vividos por Elizabeth Banks (das franquias A Escolha Perfeita e Jogos Vorazes) e David Denman (de Logan Lucky, 2017), o casal de fazendeiros é simples e amoroso. Tentam ter uma criança há algum tempo e imaginam o acontecido como um presente divino. Sem maior alarde, criam o garoto, que sabe ser adotado, mas desconhece sua verdadeira origem. Ao fazer 12 anos, os poderes de Brandon começam a aparecer, bagunçando ainda mais um período que já é naturalmente conturbado. É, o menino já nasceu com nome artístico: Brandon Breyer – os quadrinhos adoram uma aliteração!

Além de Banks e Denman, outro que faz um ótimo trabalho é o jovem Jackson A. Dunn (o Scott Lang aos 12 anos de Vingadores: Ultimato, 2019). Ele consegue nos convencer nos dois extremos: como um filho dócil e obediente e como um psicopata sanguinário, falando pouco e usando bastante suas expressões faciais. As vozes que ouve não ajudam muito e se mostram um recurso totalmente desnecessário. Tim Williams (de Deadpool 2, 2018), responsável pela trilha sonora, consegue se segurar, compondo faixas que casam bem com as cenas, sem passarem do limite do invasivo. A montagem também é bem-sucedida, deixando as coisas ágeis.

Como o diretor David Yarovesky não é dos mais conhecidos e este é apenas seu segundo longa (depois de A Colmeia, 2014), o nome principal a aparecer no cartaz de Brightburn é o do produtor, James Gunn. Irmão e primo dos roteiristas (Brian e Mark Gunn, respectivamente, ambos de Viagem 2, 2012), James aproveitou sua fama, adquirida com Os Guardiões da Galáxia, para chamar um pouco de atenção para o projeto. Como o orçamento foi baixo e a bilheteria está se mostrando expressiva, não é difícil prever que os Gunns voltarão a esse universo em breve.

James Gunn, o produtor, apresenta o projeto com a atriz Elizabeth Banks

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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