Na Netflix: Polar e Velvet Buzzsaw

por Marcelo Seabra

Polar

Nada original, a ideia de um assassino fodão que é perseguido por todos os outros é sustentada por um nome apenas: Mads Mikkelsen (o Hannibal da TV). Já vimos essa trama em filmes como John Wick (2014) e nas adaptações de quadrinhos RED (2010) e O Procurado (Wanted, 2008). E Polar (2018) é mais um produto similar, também baseado em quadrinhos, pulando das revistas para a Netflix.

Mikkelsen, um ótimo ator que precisa fazer pouco para satisfazer, vive um assassino conhecido como Black Kaiser que se aproxima dos 50 anos, quando a instituição para a qual trabalha o obriga a se aposentar. Mas a aposentadoria custa caro aos empregadores, que optam por eliminá-lo, enviando um grupo de alta periculosidade atrás dele. É nesse ponto em que começa o festival de absurdos, com cenas de luta e sexo igualmente trabalhadas, nas quais o diretor sueco Jonas Åkerlund se mostra criativo. Pena o roteiro ser tão estúpido.

Duas participações especiais distraem o público da mesmice da trama, e temos Vanessa Hudgens mais uma vez tentando se desvincular de sua imagem de certinha de High School Musical. Uma emboscada numa casa vale o ingresso – se fosse pago – e o que se segue é o esperado, apesar de uma ou outra surpresa. Para quem gosta de ver uns tiros voando e socos acertando seus alvos, é um prato cheio.

Velvet Buzzsaw

A Netflix reuniu o trio de O Abutre (Nightcrawler, 2014) para mais um filme estranho, com personagens de moral duvidosa num mundo cheio de intrigas e mentiras. Ao invés de câmeras perseguindo acidentes à noite, Velvet Buzzsaw (2019) se aventura pelo círculo da arte, nos apresentando a todo tipo de gente que compõe esse universo. Mas, dessa vez, o diretor e roteirista Dan Gilroy perdeu a mão e não conseguiu amarrar as pontas que deixou soltas.

Novamente como protagonista, Jake Gyllenhaal agora é um crítico de arte com influência tamanha que é capaz de valorizar ou derrubar uma obra ou artista. Em meio a uma rotina de sorrisos falsos e palavras vazias, ele se depara com as pinturas de um desconhecido recentemente falecido que havia deixado um pedido claro: no caso de sua morte, que destruíssem toda a sua obra. A ganância fala mais alto e logo tudo é colocado à venda.

Gilroy aproveita essa alegoria para levantar algumas discussões sobre o preço da arte e sua comercialização. Ao criticar a falta de profundidade daquelas pessoas, ele acaba realizando uma obra igualmente rasa. Como trabalha com o sobrenatural, ele até ameaça criar regras, algo necessário para quem está acompanhando e chegou agora. Mas essas regras logo são deixadas de lado, o que deixa o público meio perdido. E os acontecimentos que se seguem entram numa mesmice que será difícil controlar o sono.

Fechando o trio de O Abutre, Rene Russo (acima) vive a dona da galeria que é mais próxima do crítico de Gyllenhaal. O elenco ainda conta com Zawe Ashton, Tom Sturridge, Natalia Dyer, Billy Magnussen e os ótimos John Malkovich e Toni Collette. Mesmo com todos esses nomes, Velvet Buzzsaw (que aparece no IMDB como Toda Arte É Perigosa) não anima. O longa se constrói sobre um mistério que nunca se revela e que não faz sentido. Não funciona como terror, muito menos como drama. É mais um filme para sumir no meio do enorme acervo da Netflix.

Gyllenhaal é atração principal de Velvet Buzzsaw

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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