A Mula e a eficiência de Clint Eastwood

por Kael Ladislau

Não é preciso dizer muito sobre Clint Eastwood. Seus 88 anos, sendo quase 60 dedicados ao Cinema, falam por si só. Talvez por isso, o mais novo longa do eterno “cowboy sem nome” dos faroestes de Sérgio Leone não revele nada muito novo. O que não significa que A Mula (The Mule, 2018) seja piegas ou ruim.

Não há nada de muito diferente que já foi visto nos filmes eastwoodianos. Temos um veterano de guerra com problemas familiares que encontra o jeito mais difícil possível para se reaproximar da família. Dessa vez, Clint (de Curvas da Vida, 2012) é Earl Stone, um outrora respeitado criador de lírios. Sua vida se resumia ao trabalho, tanto que sua família ficava para escanteio em momentos importantes, sobretudo os de sua filha Iris (Alison Eastwood, sim, também filha na vida real).

O passar dos anos fizeram Earl ser uma persona non grata entre os Stone, ressalvando-se apenas a relação com sua neta Ginny (Taissa Farmiga, de A Freira, 2018 – acima). Junta-se a isso o fato de Earl ir à falência em seu comércio de lírios graças à internet, modernidade que o personagem rechaça sempre. Esse é o contexto que faz Eastwood receber uma proposta para ser um transportador de cocaína de um cartel mexicano, dada a sua experiência nas estradas estadunidenses e sua perícia no volante – ele nunca recebeu uma multa!

Além de entregar uma boa história, ainda que nada formidável, como Menina de Ouro (2004) ou Os Imperdoáveis (1992), o diretor Clint ainda atua ao lado de um bom elenco. Além das já citadas Alison e Taissa, temos Bradley Cooper (de Nasce Uma Estrela, 2018) como o policial Colin Bates, e seu parceiro mexicano Treviño é o onipresente Michael Peña (de Homem-Formiga e a Vespa, 2018). O grupo ainda conta com Dianne Wiest (de Tiros na Broadway, 1994 – abaixo), Andy Garcia (de Tempestade, 2017) e Laurence Fishburne (também de Homem-Formiga e a Vespa). O roteiro e o elenco já garantem a ida ao cinema.

Temos ainda as belas tomadas que um roadie movie no centro-oeste americano permite. Clint ainda mostra que não perdeu a mão na direção, quando mostra, por exemplo, o pulo temporal que o filme tem mostrando o florido jardim de Earl em uma época e, na sequência, a devastada plantação de anos mais tarde, já dando a entender a derrota do personagem.

É possível identificar no protagonista o próprio Eastwood: um sujeito meio ranzinza, mas com bom humor. O fato de ele ter dificuldades com a internet e viver à base de um humor “politicamente incorreto” mostra o quão o personagem/ator é ultrapassado em certas questões. E isso não é uma percepção pessoal. O próprio Eastwood deixa claro isso em momentos quando, por exemplo, Bates diz a Earl: “Você já viveu tanto que não tem mais filtro de nada”. O veterano retruca: “Acho que nunca tive”.

A Mula é um bom filme e percebemos todas as marcas do diretor lá. Mais do que isso, é eficiente. Eastwood assegura uma história interessante, com atuações seguras. Não chega a surpreender, mas o diretor entrega um produto que você facilmente identifica como dele e sai satisfeito do cinema. Até tocado, por talvez ser a última atuação dessa lenda viva que é Clint Eastwood.

Eastwood e a verdadeira “mula”, Leo Sharp

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