por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Apesar de gostar do trabalho de Zack Snyder em filmes como 300 e Watchmen (ainda que ambos não sejam boas adaptações), nunca gostei da forma como ele resolveu trabalhar o Universo DC quando recebeu da Warner essa difícil tarefa. Snyder e os executivos da Warner viram o que os estúdios Marvel estavam fazendo e resolveram que a melhor forma de obter o mesmo sucesso seria trabalhar de uma maneira bem diversa. Se os filmes da Marvel eram cheios de humor e esperança, os da DC deveriam ser sombrios, soturnos e até meio cínicos.
Com isso em mente, Zack trabalhou em Homem de Aço (2013) e Batman v Superman (2016), conseguindo boas bilheterias – ainda que abaixo do esperado pelo estúdio – mas uma enxurrada negativa de críticas. Esquadrão Suicida (2016), de David Ayer, seguiu a mesma toada: bons números de bilheteria e péssimas críticas. Isso fez com que a cúpula da Warner decidisse por uma mudança de direção, dando a Geoff Johns, uma das principais mentes criativas da DC, mais poder no que dizia respeito à forma como os personagens da empresa seriam adaptados para a telona. Mulher-Maravilha (2017), de Pat Jenkins, já trouxe um pouco dessa filosofia e Aquaman, de James Wan (2018), que chega às telas brasileiras hoje, leva esse direcionamento ao extremo. Ele é quase um filme da Marvel.
Um dos grandes méritos de Aquaman está em seu roteiro, escrito por David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall, com base na história de Geoff Johns, James Wan e do próprio Beall. A presença de Johns na equipe criativa foi fundamental aqui, já que foi ele o responsável por comandar a reformulação do personagem na iniciativa que a DC chamou de Os Novos 52 e partes de seu trabalho nos quadrinhos, especialmente nos arcos As Profundezas e A Morte de Um Rei, serviram de base (ou inspiração) para o que vemos nas telas.
Aquaman é um filme de origem que difere levemente de produções dessa seara, já que o personagem foi apresentado ao mundo em Liga da Justiça (2017). Aqui, no entanto, conhecemos mais detalhes de sua vida pregressa. Sabemos, por exemplo, que Arthur Curry (Jason Momoa) é filho do humano Tom Curry (Temuera Morrison, de Lanterna Verde, 2011) com Atlanna (Nicole Kidman, de Big Little Lies), soberana do lendário reino submerso da Atlântida. Atlanna some da vida de Arthur quando ele ainda é uma criança e ele passa a se culpar por isso. Em sua mente, a mãe sumiu porque ele nasceu em uma união não permitida entre humanos e atlantes.
A herança materna de Arthur faz com que ele tenha capacidades sobre-humanas. Além de super-força e semi-invulnerabilidade, ele consegue nadar a velocidades absurdas, respirar tanto dentro quanto fora da água e “conversar” com criaturas marinhas. Arthur passa boa parte de sua vida combatendo a pirataria nos sete mares, sempre de maneira razoavelmente anônima, ainda que isso acabe tornando-o uma espécie de celebridade em sua cidade natal.
A sociedade submarina é dividida em sete reinos, quatro dos quais ainda têm alguma importância. Cansado de ver como os habitantes da superfície andam tratando os mares, o soberano da Atlântida, Orm (Patrick Wilson, da franquia Invocação do Mal), meio-irmão de Arthur, quer declarar guerra à humanidade. Para isso, ele precisa unir os quatro reinos e inicia seus planos recrutando a ajuda do Rei Nereus (Dolph Lundgren, um dos Mercenários). A filha de Nereus, Mera (Amber Heard, de Magic Mike XXL, 2015), e o conselheiro real, Vulko (Willem Dafoe, de Assassinato no Expresso Oriente, 2017), querem impedir essa guerra. A solução: convencer Arthur de aceitar seu papel e conquistar o trono da Atlântida. Essa tarefa, claro, não será nada fácil, especialmente quando a dupla precisa também enfrentar um inimigo que Arthur arrumou em sua luta contra a pirataria.
Aquaman é um filme divertido e um verdadeiro festim para os olhos, especialmente nas sequências passadas debaixo da água. Impressiona a precisão técnica apresentada na tela, com um trabalho de computação gráfica quase perfeito. Há um erro aqui e ali, mas nada que traga demérito ao filme. Outra coisa que impressiona é como os cenários do filme são iluminados. Mesmo Atlântida, localizada bem abaixo da superfície, é um show de luzes e cores e as sequências de ação que se passam nesse cenário, ao contrário de muitos filmes do gênero, são bem definidas e poucas são as cenas onde a falta de iluminação é utilizada para esconder possíveis falhas nos efeitos visuais e especiais.
Durante boa parte do terceiro ato, Aquaman traja o seu uniforme clássico dos quadrinhos, ou seja, calças verdes e armadura escamada amarela, deixando de lado o visual desleixado apresentado em Liga da Justiça. Já os visuais tanto de Orm quanto do Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II, de The Get Down) também refletem aqueles aos quais os fãs dos quadrinhos estão acostumados.
É seguro dizer que Aquaman é uma bola dentro da DC. Não é um filme no nível de Mulher-Maravilha, nem tampouco pode ser comparado com Batman: O Cavaleiro das Trevas, como alguns críticos gringos fizeram. É, no entanto, uma bela produção que nos dá esperança de que o universo cinematográfico da DC finalmente entre nos trilhos. Mesmo que, para isso, tenha que seguir as pegadas de sua maior concorrente. E, como é costume, Aquaman tem uma cena após o final e ela se encontra no meio dos créditos. Portanto, assim que ela for exibida – e a Warner ainda precisa tornar essas cenas relevantes, porque todas até agora foram bastante dispensáveis – você pode sair da sala sem esperar o fim dos créditos.
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Marvel e DC são farinha do mesmo saco que produzem péssimos roteiros. Veja a crítica e o apontamento dos erros de roteiro de Aquaman no site The Cine Buzz Stop.