Oito Mulheres e Um Segredo é a vez de Debbie Ocean

por Marcelo Seabra

A Warner Bros. conseguiu resolver três problemas numa só tacada. Como fazer para contornar a falta de ideias para arrancar mais dinheiro de uma franquia esgotada, a falta de interesse da equipe original de voltar e ainda atender a uma demanda muito legítima da sociedade de valorizar mais as atrizes, num mercado predominantemente masculino? Criando Oito Mulheres e Um Segredo (Ocean’s 8, 2018), derivado que está mais para reimaginação do que para algo propriamente novo.

A trilogia de Danny Ocean, que começou com Onze Homens e Um Segredo (Ocean’s 11, 2001), nos apresentou ao personagem de George Clooney, um criminoso carismático e brilhante que reúne uma turma para roubar três cassinos em Las Vegas e, de quebra, reconquistar sua ex-esposa, coincidentemente casada com o responsável pelas casas visadas. O longa era baseado num outro, de 1960, estrelado pelo Rat Pack de Sinatra, e a história foi alterada o suficiente para tornar as duas sessões igualmente agradáveis.

Ambas as sequências (2004-2007) foram bem fracas e mostraram que a fórmula já não daria mais frutos – além de originarem outras obras no mercado, que praticamente imitavam o trabalho do diretor Steven Soderbergh. Quase dez anos depois, Gary Ross (de Jogos Vorazes, 2012) assume a responsabilidade de comandar e escrever (ao lado de Olivia Milch) uma espécie de versão feminina das aventuras de Danny – com Soderbergh como produtor. Agora, temos Debbie Ocean, uma irmã da qual nunca tínhamos ouvido falar. E ela, assim como o falecido irmão, junta uma gangue para um roubo ousado. Só de mulheres. Oito, mais precisamente. Ou sete, já que uma não faz parte do esquema.

Depois de cinco anos na cadeia por ter sido traída por um namorado em um golpe, Debbie Ocean (Sandra Bullock (de Gravidade, 2013) sai com um plano à prova de furos: roubar um colar de diamantes caríssimo na festa do Museu Metropolitano de Arte de Nova York. A Met Gala reúne diversas celebridades, oportunidade para a produção ter incontáveis pontas de famosos (de Katie Holmes a Kardashians) e para a garota fazer seu pé de meia. Mas ela vai precisar de ajuda. Danny tinha Rusty Ryan (Brad Pitt) como braço direito, e Debbie tem Lou (Cate Blanchett, de Thor: Ragnarok, 2017).

As duas vão buscar nomes para tornar a jogada possível. Cada qual com uma habilidade, elas se unem às personagens de Helena Bonham Carter (de Cinderela, 2015), Mindy Kaling (de Uma Dobra no Tempo, 2018), Rihanna (de Bates Motel), Awkwafina e Sarah Paulson (de The Post, 2017). Correndo por fora, temos Anne Hathaway (de Colossal, 2016), que vive uma atriz badalada que será a estrela da festa. Não vale a pena estragar a surpresa das participações especiais, inclusive de gente da franquia original, mas é bom adiantar que o volume é tão grande que acaba cansando. É apenas uma distração. E as insistentes referências a Danny chegam a irritar.

As características principais de Onze Homens aparecem aqui também, numa tentativa clara de Ross de emular o estilo de Soderbergh. As passagens de cenas fluídas, a trilha sonora descolada, as várias camadas da história, as caras de paisagem de personagens que têm total tranquilidade mesmo quando enfrentam a possibilidade de passarem o resto da vida na prisão… Está tudo lá. O que não é ruim. É apenas repetitivo e deve desagradar quem já conhece os longas anteriores. O texto é bem raso, com tudo acontecendo muito facilmente e todos muito bonzinhos e sorridentes. Para quem está chegando agora, talvez a sensação seja diferente, com um resultado positivo. Atrizes do porte de, principalmente, Blanchett e Paulson mereciam mais do que uma mera cópia.

Esses eram os 11 de Danny Ocean

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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