por Marcelo Seabra
Expansão do curta homônimo que fez sucesso no YouTube, Cargo segue a mesma cartilha da surpresa nas bilheterias Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018). São duas produções que usam o terror para ir mais longe. Mas, se Um Lugar mantinha alta a tensão, Cargo carrega mais na dose de drama, nos apresentando a um sujeito comum que precisa proteger sua esposa e filha em meio a um apocalipse zumbi. O tema anda mais do que batido, mas o enfoque consegue ser original, se afastando de The Walking Dead e similares.
Mais do que acostumado com o tipo “gente como a gente”, Martin Freeman vive o pai, Andy. Ao mesmo tempo em que faz papéis como Bilbo Bolseiro (na trilogia O Hobbit), John Watson (na série Sherlock) e o Agente Ross (do Universo Marvel), Freeman escolhe tipos absolutamente corriqueiros, como o típico fracassado Lester, de Fargo. Circulando por o que parece ser o outback australiano, Andy precisa superar vários desafios e decisões erradas para que sua filha possa ter um futuro. Tudo muito crível, dentro daquela realidade.
Assim como o que aconteceu com The Babadook (2014), outra produção australiana baseada num curta, Cargo manteve sua essência e cresceu sem parecer enrolação. Mérito dos diretores, Ben Howling e Yolanda Ramke, essa também roteirista. Os dois também assinaram o original e fazem aqui a estreia em um longa. Respeitam as regras que estipulam e trabalham com uma edição ágil. Isso, além de terem escolhido a ótima novata Simone Landers para viver uma personagem importante.
Com uma carreira que se confunde com a ficção-científica, Andrew Niccol ataca novamente. Poucas vezes fora do gênero (como em O Senhor das Armas, 2005), ele parece até prever para onde estamos caminhando (como em O Show de Truman, 1998), mesmo que dê umas viajadas (O Preço do Amanhã, 2011). No fundo, sempre há uma metáfora, algo que vá fazer o público refletir. Não podia ser diferente com Anon, que não chega a ser uma obra-prima (como Gattaca, 1997), mas não é ruim (como Simone, 2002).
Mais uma vez vivendo o tipo durão com o qual está habituado, Clive Owen (de The Knick) é uma espécie de detetive onisciente, já que possui um mecanismo que lhe permite acessar a visão de qualquer cidadão. Nesse futuro, é fácil mostrar para um amigo exatamente o que se viu, e as permissões especiais da divisão de investigação permitem muito mais. As possibilidades desse recurso são muito interessantes, mas até que ponto temos privacidade se alguns conseguem saber tudo o que fazemos?
Em busca de uma segurança utópica, sacrificamos alguns direitos, como ao anonimato. Se hoje, com câmeras da polícia e de portarias de prédios, já conseguimos apontar criminosos e prendê-los, imagine se pudéssemos ver exatamente o que aconteceu? Inclusive, cruzando informações retiradas de todos os envolvidos! O conceito é bem instigante, o mínimo que poderíamos esperar de Niccol.
A trama tem o pontapé inicial dado quando o Detetive Frieland passa por uma pessoa na rua que ele não consegue “escanear”. Coincidentemente, um assassinato é realizado sem que se consiga acessar as lembranças da vítima. É como se o criminoso a tivesse hackeado, tirando seu ponto de vista. Assim, a vítima vê o que o criminoso vê. O que, se você parar um pouco para pensar, deve dar uma agonia gigantesca. O que vemos é a nossa realidade, e esse é um conceito do qual dependemos.
É verdade que a ideia é melhor que a execução, que acaba caindo num lugar comum neo-noir, seguindo uma fórmula mais do que conhecida. Mas não deixa de ser bacana acompanhar o duelo entre Owen e Amanda Seyfried (de O Preço do Amanhã). E qualquer futuro imaginado por Niccol sempre terá apelo. No final, mesmo sem muita tensão ou surpresa, queremos continuar acompanhando aquele universo. Poderia, por exemplo, virar uma série de TV.
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