Netflix quer levar soldados a Saturno

por Marcelo Seabra

Depois de Bright, The Cloverfield Paradox e Aniquilação, fica difícil buscar uma boa ficção-científica na Netflix. O serviço de streaming parece cada vez mais valorizar a quantidade em detrimento da qualidade, entulhando seus menus de produções fracas com o único objetivo de acumular cliques e minutos assistidos. A mais recente novidade é The Titan (2018), longa que parte de uma premissa interessante para logo se perder.

Vivendo o casal principal, temos Taylor Schilling (da série Orange Is the New Black) e Sam Worthington (de A Cabana, 2017). Se os personagens não têm um milimetro de profundidade, os atores não ajudam nada. Schilling até se esforça, mas sua Abi se resume a ser uma esposa abnegada que aceita todas as decisões descabidas do marido. E ele é apenas um Comando em Ação, um militar estrela que se voluntaria para um projeto suicida que não tem como dar certo.

Numa participação especial para chamar público, Tom Wilkinson (de Selma, 2014) aparece como o cientista maluco que vai mexer no DNA humano para fazer com que a colonização da lua Titã, de Saturno, seja possível. As coisas começam da melhor maneira, com as cobaias humanas ganhando características super-humanas, como ficar muito tempo debaixo d’água e resistir a altas temperaturas. O problema são os efeitos colaterais do tratamento, que aparecem de repente e se mostram desastrosos.

Perto do meio do filme, já notamos que o rumo está bem estranho, com reações sem explicação acontecendo, exageros toscos e convenientes e atitudes cada vez menos éticas por parte do doutor e equipe. Logo entendemos que a tal solução não vai resolver nada, mas continuam insistindo nela. Quem não for perseverante já terá mudado de atração. Tanto o diretor quanto o roteirista, Lennart Ruff e Max Hurwitz, são marinheiros de primeira viagem em longas, e não foi dessa vez que marcaram pontos.

The Titan se passa no futuro e uma rápida contextualização é dada, mas muito fica no ar. Como não sabemos exatamente o que está acontecendo e os personagens são muito rasos, fica bem difícil se importar. Os coadjuvantes, então, se misturam e é impossível saber quem é quem. Se todos explodirem, tanto faz. Nada no filme é minimamente memorável e dá a entender que é muito fácil apresentar projetos para a Netflix. Eles gastam dinheiro com qualquer coisa.

Wilkinson sempre traz dignidade, mas aqui foi complicado

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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