por Marcelo Seabra
Coube a Garth Davis, vindo do sucesso de Lion (2016), comandar Maria Madalena (Mary Magdalene, 2018), longa que acompanha toda a jornada de Jesus Cristo pelos olhos da jovem. Ele acaba também dando maior ênfase aos apóstolos, principalmente Pedro e Judas Iscariotes. Fugindo dessa onda de filmes que pregam, como A Cabana (The Shack, 2017), Uma Razão Para Recomeçar (New Life, 2017) ou mesmo O Vendedor de Sonhos (2016), a obra busca apenas contar uma história, mostrando o lado de Maria de Magdala.
No papel principal, Rooney Mara (também de Lion) faz o que sabe melhor: passa muito com o olhar, precisando falar pouco. Em determinado momento, parece que estamos assistindo a um de seus filmes independentes usuais, com a diferença da quantidade de areia em volta e da presença de Jesus (Joaquin Phoenix, de O Homem Irracional, 2015). Ambos têm atuações bem comedidas e parecem na mesma sintonia, o que torna crível o laço que vemos se formar. Um pouco apressado, sim, mas ainda assim crível.
É bem interessante acompanhar aquela história que já conhecemos, talvez a mais famosa do mundo, por outra ótica. Aqui, não é Jesus o protagonista, e podemos ver o que acontecia à volta dele. Alguns pontos podem levantar a fúria de religiosos, que não vão concordar com a visão do cineasta. Pedro (Chiwetel Ejiofor, de Doutor Estranho, 2016) é mostrado como alguém que prezava tanto a preferência de Jesus por ele que chega a ficar com ciúmes quando Maria se aproxima. Ejiofor nunca cai nas armadilhas fáceis, evitando exageros ou caras e bocas. Ele mantém sempre uma postura muito correta, mesmo visivelmente irritado.
Outro que tem destaque é Judas (Tahar Rahim, de O Segredo da Câmara Escura, 2016), mostrado como um discípulo mais esperançoso por grandes mudanças, pela chegada do Reino de Jesus. Sua trajetória é complexa e bem construída, o que nos leva a um final que, mesmo que bem conhecido, é trágico. Os demais apóstolos podem ser confundidos por quem não os conhece a fundo, já que não recebem tanta atenção na tela. Todos, no entanto, bem limpinhos, o que é de se estranhar tendo em vista o ano e o lugar.
Apesar de monótono em alguns momentos, Maria Madalena tem uma boa história e interpretações fortes, que devem ser o suficiente para manter o interesse do público. A reconstituição de época, dos mercados e cidadelas, é primorosa, e a fotografia nos permite entender melhor a geografia do lugar. A nota triste da produção é relacionada à trilha sonora: é a última assinada pelo competente islandês Jóhann Jóhannsson (de A Chegada, 2016).
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Desejo assistir o filme Maria de Magdala