por Marcelo Seabra
Deveria existir um subgênero chamado “filmes que te deixam com raiva”, ou algo assim. São aqueles que, inspirados em uma história real, mostram casos de abuso de poder, violência policial, racismo, assédio sexual e por aí vai. Detroit em Rebelião (Detroit, 2017) reúne todas as situações citadas e ainda traz o senso de urgência dos longas de Kathryn Bigelow.
Novamente se reunindo com o roteirista Mark Boal, Bigelow visita outro fato da história dos Estados Unidos. Depois do ficcional Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008) e de A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012), sobre a caçada a Osama Bin Laden, a dupla foi à Detroit de 1967, cidade marcada por revoltas nas ruas de uma população prioritariamente negra que frequentemente se via sofrendo abusos de uma polícia repressora e, em sua maioria, branca.
Somos apresentados a uma variedade de personagens que rumam a se encontrar, e prevemos que algo de ruim vai acontecer. John Boyega, destaque da nova trilogia de Star Wars, está à frente de um elenco bem homogêneo, onde todos funcionam bem. Will Poulter (de O Regresso, 2015 – acima, com Anthony Mackie) chega a atrair para si tamanha raiva que era bem capaz de apanhar na rua, caso alguém o visse na saída do cinema. John Krasinski (de 13 Horas, 2016), numa curta participação, é outro que passa a ser odiado imediatamente, tamanha é a sua competência.
Como o caso do Hotel Algiers não chegou a ser 100% esclarecido, muito teve que ser criado por Boal para ligar os fatos, mas nada muito fantasioso. Era bem capaz que as coisas tivessem acontecido da forma como são mostradas. E a fotografia de Barry Ackroyd, veterano com larga experiência nesse tipo de filme (como Voo United 93, 2006, e Capitão Phillips, 2013) explora bem tanto as ruas quanto os quartos do hotel, o que nos coloca próximos aos personagens. E o pior: sofrendo com eles.