Uma Razão para Recomeçar já cansa no título

por Marcelo Seabra

“A vida é para ser vivida”. Essa frase, por si só, já caracteriza um filme como autoajuda. Uma Razão para Recomeçar (New Life, 2016) entra disfarçadamente nesse filão, repleto de mensagens para fazer seu espectador se sentir bem e sair do cinema cheio de esperança. E não passa disso. Tudo é muito bonitinho, até os momentos tristes, já que sempre podemos esperar a óbvia volta por cima.

O drama marca a estreia como diretor e roteirista do ator Drew Waters (de Transformers: O Último Cavaleiro, 2017). Baseando-se nesse único esforço, seria melhor que ele continuasse em frente às câmeras. Os poucos conflitos que vemos na tela parecem superficiais, como tudo mais. O roteiro não tem um quebra-molas, tudo corre por um caminho pavimentado, sinalizado, de poucas curvas. Isso faz com que até meros 88 minutos se tornem intermináveis e, antes da sessão acabar e as luzes se acenderem, você já está de pé, se dirigindo à porta.

Quando descobrimos que Erin Bethea, protagonista e uma dos quatro roteiristas, ficou famosa com À Prova de Fogo (Fireproof, 2008) e seguiu fazendo outros vários trabalhos de cunho cristão, tudo fica mais claro. Uma Razão para Recomeçar não chega a pregar, como outros filmes andaram fazendo, mas se aproxima muito. Somos apresentados a duas crianças vizinhas que crescem muito próximas e, na adolescência, descobrem o amor (posso até ouvir o “ahhhh” no fundo).

Já crescidos, Ben (Jonathan Patrick Moore, da série Blindspot) e Ava (Bethea) seguem firmes como casal, mas a vida entra no caminho. Uma distância mal explicada entre eles causa o primeiro revés. Mas não se preocupe, vai dar tudo certo. E, assim, eles seguem, enfrentando as agruras da rotina, os percalços da vida adulta e quantos outros clichês você possa imaginar. Não falta nem o bom velhinho que percebe o problema no ar e vem ajudar, papel do veterano Bill Cobbs (de Greenleaf). Ah mencionei o médico ranzinza que não passa de um coração enorme? Sim, ele também está lá, fazendo Terry O’Quinn (de The Blacklist: Redemption) passar constrangimento.

Há uma grande onda de filmes de temática religiosa tomando os cinemas, como os dois Deus Não Está Morto, e produtoras especializadas nesse grupo. Eles se apresentam como tal e têm público cativo. Uma Razão para Recomeçar se esconde numa proposta de novo Love Story, o que não é muito honesto com o público. Mas, se você gostou de A Cabana (The Shack, 2017), pode ir de olhos fechados. E coração aberto.

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Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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Uma resposta para Uma Razão para Recomeçar já cansa no título

  1. Luiz Apologista disse:

    Uma Razão para Recomeçar é um filme único e fantástico! Qual filme na história mostraria que uma criança poderia dar um norte para continuar a vida a um homem viúvo? Segundo o crítico aí em cima o filme segue um caminho sem curvas ? Vixe bola for! O filme é super dinâmico mostrando de forma cruel os revezes da vida. Esse filme ganha em disparada de outros tantos do gênero. Super recomendo!

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