por Marcelo Seabra
Em temporada de Oscar, filmes com poucas ou nenhuma indicação tendem a passar longe dos cinemas, deixando as salas para os mais badalados. Mesmo assim, a Paramount decidiu lançar Aliados (Allied, 2016), que teve apenas seu figurino indicado pela Academia e ao BAFTA. A ideia é que o elenco estrelado e o diretor premiado chamem o espectador estrangeiro, consertando assim o buraco que ficou pela falta de bilheteria nos Estados Unidos. Parece que os americanos não são muito favoráveis a um thriller de guerra à moda antiga.
Quando se fala em filme de guerra, logo se imagina corpos estraçalhados, sangue e tudo o mais que se vê em um campo de batalha. O próprio Brad Pitt viu muito disso (Bastardos Inglórios e Corações de Ferro que o digam) recentemente em sua carreira, e Marion Cotillard teve sua cota em Macbeth (2015). Aqui, os dois aparecem juntos num filme que poderia facilmente ser dividido em duas partes, que se chamariam: Missão Casablanca e Intriga em Londres. A primeira parte serve para estabelecer o casal, mostrando como eles se conheceram e suas habilidades, um preparativo para a segunda. Talvez, esse tenha sido um motivo da não aceitação do público: uma longa e previsível introdução para entrar no que, digamos assim, é o que importa. O outro seria a falta de tiroteios e sangue.
O filme começa em 1941, com Max (Pitt) chegando na parte francesa do Marrocos, dominada pelos nazistas em plena Segunda Guerra Mundial. Ele deve se encontrar com Marianne (Cotillard) para que o belo e fictício casal vá a uma festa eliminar um alvo importante. Um tempo depois, vivendo uma vida familiar no serviço burocrático, Max recebe uma notícia que vai perturbar o casal. É muito interessante notar, aí, a mudança pela qual o rosto de Pitt passa. Antes, ele é um espião padrão: seguro, impiedoso, sem demonstrar emoções. Depois, a sua preocupação é visível, e ele mais uma vez mostra ser um ator muito competente. Cotillard não fica atrás, vivendo a mulher descrita como “o coração da festa”. Muito alegre e comunicativa, ela muda drasticamente quando necessário.
A química entre os protagonistas foi alvo de críticas da imprensa especializada. Mas o calor de Cotillard e o jeito objetivo de Pitt, sempre com um olhar carinhoso, estão em perfeita sintonia. Completando o elenco, em participações dignas de lembrança, estão os ingleses Jared Harris (de O Agente da U.N.C.L.E., 2015), Simon McBurney (de Invocação do Mal 2, 2016) e Matthew Goode (de Downton Abbey), além da americana Lizzy Caplan (de Masters of Sex).
Na direção de Aliados está o veterano Robert Zemeckis, que assina dos já clássicos De Volta para o Futuro (1985) e Uma Cilada para Roger Rabbit (1988) aos recentes O Voo (2012) e A Travessia (2015), passando por Forrest Gump (1994) e Contato (1997). Ou seja: alguém que sabe bem o que faz e não precisa provar nada pra ninguém. O cineasta pertence à turma chamada “old school”, ou a velha guarda, aqueles que regem uma orquestra de forma clássica e dificilmente erram a mão. Em Revelação (2000), Zemeckis tentou emular o estilo do mestre Hitchcock, mas só se aproximou disso aqui. Com paisagens lindas na fotografia de Don Burgess e uma trilha sonora na medida, como de costume para Alan Silvestri (ambos de Forrest Gump), só faltava um roteiro que envolvesse troca de identidades. E é isso que fornece Steven Knight, o habilidoso roteirista de Locke (2013) e Senhores do Crime (2007), inspirado em espiões reais. Falta um pouco do suspense de um Intriga Internacional (1959) ou um Interlúdio (1946), mas o resultado é bem satisfatório.
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