por Marcelo Seabra
Enquanto aguardamos a partida do avião, nada pior do que ouvir que os assentos são flutuáveis, em caso de pouso na água. Logo penso: “Prefiro pousar no chão!”. Pois os passageiros do Capitão Chesley “Sully” Sullenberger não tiveram essa opção no voo 1549 da US Airways e foram parar no meio do rio Hudson. O fato, ocorrido em 2009, acaba de chegar aos cinemas em Sully: O Herói do Rio Hudson (Sully, 2016), novo trabalho de Clint Eastwood.
Em 15 de janeiro de 2009, Sully e seu primeiro oficial, Jeffrey Skiles, levavam 155 passageiros, mais tripulação, de Nova York a Charlotte, na Carolina do Norte. Com apenas três minutos no ar, aves vieram na direção contrária e inutilizaram os dois motores, tornando impossível, aos olhos do capitão, se dirigir a qualquer um dos aeroportos mais próximos. A solução foi pousar no Hudson, e ninguém se feriu gravemente. Mesmo tido por todos como herói e saudado em qualquer lugar, Sully e Skiles passaram por uma espécie de julgamento por uma junta que examina se a manobra era realmente necessária.
Baseado no livro de Sully e do jornalista Jeffrey Zaslow, o roteiro do longa foi escrito por Todd Komarnicki, profissional cujo último crédito era o terrível A Estranha Perfeita (Perfect Stranger, 2007). Por algum milagre, deu tudo certo: o roteiro é enxuto, objetivo e crescente em sua tensão. O pouso, como podemos adivinhar, foi rápido e não poderia durar o filme todo, mesmo tendo apenas seus 96 minutos. Por isso, fora um ou outro flashback, a maior parte do filme se concentra no pós. A condução das audiências parece a votação do impeachment que vimos recentemente: algo surreal!
Alguns problemas existem, claro. Aquelas coincidências do jornal sempre começar quando o personagem liga a televisão, por exemplo. O fato de todos serem tão amáveis, parece que Nova York é a cidade dos bonzinhos, é um pouco forçado. As visões e pesadelos tiram o público do filme, o que não é desejável. Mas as duas atuações principais são mais do que suficientes para nos fazer relevar essas coisas menores. Tom Hanks, com seus dois Oscars, quatro Globos de Ouro e trocentos outros prêmios, dispensa apresentações. Ele pilota um avião, responde às perguntas dos investigadores e se exercita pelas ruas com a mesma serenidade. Hanks tem a invejável capacidade de ser um cara comum, mesmo que já o tenhamos visto nos papéis mais variados. Outro que está muito bem é Aaron Eckhart (do Frankenstein de 2014). Nem sempre, suas escolhas são confiáveis (como o Frankenstein de 2014), mas seu trabalho é, e ele é uma ótima dupla para Sully no comando do voo 1549. Só sentimos por Laura Linney (de As Tartarugas Ninja 2, 2016), outra atriz fantástica que não é bem aproveitada.
Tecnicamente, Clint Eastwood continua afiado, e dois fiéis colaboradores têm responsabilidade nisso: o diretor de fotografia Tom Stern e a montadora Blu Murray. O som, principalmente nas sequências envolvendo aviões, também é bem marcante. E os efeitos especiais entram para somar, e não para roubar o show (como no bom Além da Vida, 2010). Eastwood se mostra um diretor muito competente e seguro, e aqui não comete o erro de deixar sua visão política conservadora e radical contaminar o longa (como em Sniper Americano, 2014). Pelo contrário: o bom desenvolvimento dos personagens, algo muito observado em sua obra, está presente – mesmo que, segundo depoimentos recentes de Hanks, o diretor trate seus atores como cavalos.
Eu gostei da sua opinião sobre o filme Sully. Sempre acompanhei o trabalho de Clint Eastwood, e quando soube que lançaria este filme, esperei com todo o meu ser a estréia. O trabalho deste diretor é excepcional, seu estilo e personalidade estão bem marcados neste filme, e acho que ninguém teria feito um melhor trabalho que ele. Acho que é um dos melhores filmes feito por esse diretor. Acho que a chave do sucesso é o profissionalismo que tem e o cuidar de cada detalhe.