por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Pouco após o lançamento cinematográfico de Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016) e ainda sob a chuva de críticas mistas a respeito da produção (aqui mesmo no Pipoqueiro dedicamos dois textos diferentes à película, um elogioso e outro nem tanto), a Warner anunciou que haveria uma versão estendida (ou “do diretor”, como queiram) que seria lançada diretamente em DVD/Blu-ray. Declarações na época diziam que essa versão mudaria completamente a história apresentada no cinema. Seria um filme ainda mais denso, mais violento (tanto que tem classificação Rated-R, proibido para menores de 17 anos, a mesma de Deadpool) e traria pelo menos uma nova personagem (vivida por Jena Malone, de Jogos Vorazes) que teria grande importância para a trama. Para fazer tudo isso, o filme teria um total de 3 horas de duração, 28 minutos a mais do que sua versão exibida na tela grande. E o resultado é um filme que faz muito mais sentido do que aquele que foi para as telonas, ainda que a classificação Rated-R não se justifique.
Um dos principais problemas do primeiro corte de Batman vs Superman é que diversas tramas secundárias e que são essenciais para que a história faça sentido são deixadas de lado para que haja mais tempo dedicado ao espetáculo da pancadaria e destruição. Na Ultimate Edition, elas são abordadas de maneira competente e tornam o todo muito mais coeso e fluido. Daqui em diante, exploraremos esses detalhes e, caso você não queira saber o que não viu no cinema, talvez seja melhor parar de ler por aqui. Do contrário, siga em frente.
Um dos maiores buracos de roteiro de Batman vs Superman acontece logo no começo, quando vemos Lois Lane (Amy Adams) sendo resgatada pelo Superman (Henry Cavill) quando ameaçada por um senhor da guerra africano. Pouco depois daquela ação, uma das sobreviventes do ataque dá um depoimento perante o senado americano acusando o herói de ter sido impiedoso não só com os terroristas, como com os demais habitantes de sua vila. Na versão cinematográfica, essa personagem faz mais umas duas rápidas aparições e fica por isso mesmo, assim como a investigação de Lois a respeito de um projétil recuperado da cena do conflito, que é abordado de maneira bastante superficial. Já na versão estendida, vemos que a coisa não foi bem assim, ao acaso. Lex Luthor (Jesse Eisenberg) foi o responsável por contratar e orientar a equipe que dava suporte ao general. Coube a eles não só assassinar todos os presentes na vila, como incendiar seus corpos, dando a impressão de que haveriam sido mortos pela visão de calor do Superman. Além disso, também vemos que a tal sobrevivente, que chora pela perda dos pais, não é exatamente essa figura trágica. Sua família se encontra bem, em Metrópolis, e ela foi coagida pelo bilionário a desempenhar o papel de vítima visando voltar a opinião pública contra o herói.
A trama da bala também fica muito mais bem esclarecida, na medida em que Lois recebe ajuda de uma perita forense (personagem de Malone – ao lado) que lhe fornece todos os dados que ajudam a repórter a ligar a munição a Lex Luthor. Não só isso, como ela informa a Lois que a cadeira de rodas usada pelo personagem de Scoot McNairy quando de sua audiência no senado estava revestida de chumbo. Isso teria sido o motivo do Superman não tê-la visto e, consequentemente, não ter conseguido impedir a tragédia.
Por falar em Superman, se na versão cinematográfica ele parece um ser quase que totalmente desconectado da humanidade, na versão estendida tanto o herói quanto seu alter ego, Clark Kent, têm muito mais tempo de tela. Na cena onde o senado explode, por exemplo, no cinema vemos o Superman lamentando a tragédia em silêncio e, logo depois, voando dali, como se pouco se importasse com as vítimas daquela bomba que, claramente, tinha ele como alvo. Já na versão estendida, podemos ver seu auxílio no esforço de salvamento das vítimas. Não só isso, como vemos Kent fazendo o trabalho do repórter investigativo que é, indo diversas vezes a Gotham City, entrevistando pessoas para tentar entender mais a respeito do vigilante que atua na cidade e como seus métodos o desagradam. Isso dá toda uma tridimensionalidade a ambos, herói e identidade secreta, algo que faltou na versão apresentada na telona, além de deixar mais claro o motivo do Super não gostar do Cavaleiro das Trevas.
Há ainda cenas que dão mais profundidade a Lex Luthor, mostrando como ele realmente manipulou tanto Batman quanto Superman para que houvesse o confronto final entre ambos. Até mesmo as palavras finais de Luthor para o Batman, quando já se encontra preso, ganham mais peso na medida em que há uma cena do vilão comungando com Steppenwolf, enviado de Darkseid, na nave kryptoniana (Darkseid será o vilão a ser enfrentado pela Liga da Justiça em seu filme). O diálogo entre Batman e Luthor, também alongado aqui, traz ainda informações importantes para o longa do Esquadrão Suicida, já que Batman revela que Luthor seria transferido para o Asilo Arkham, prisão para criminosos insanos localizada em Gotham que desempenha papel fundamental no filme da equipe de vilões.
A versão estendida de Superman vs Batman: A Origem da Justiça fecha diversos buracos em seu roteiro. Apesar de não mudar exatamente as opiniões a seu respeito – quem não gostou da versão do cinema dificilmente passará a gostar do filme agora, e quem gostou provavelmente gostará mais – a versão estendida parece mais com um filme do que aquela colcha de retalhos apresentada nas telonas. Isso, no entanto, não redime, nem de longe, a Warner ou Zack Snyder por suas escolhas. Se estúdio e diretor tivessem optado por cortar diversas sequências que nada adicionaram à primeira versão– como a do sonho no deserto, por exemplo – em prol daquelas que dariam mais sustância ao filme, talvez a recepção tivesse sido bem mais calorosa do que foi.
O fato de terem anunciado essa versão estendida pouco depois do lançamento do longa também não ajuda. Dá a entender que sabiam ter um produto inferior em mãos, mas o lançaram mesmo assim pensando justamente no lucro que poderia ser obtido pela versão estendida, mesmo que lançada diretamente para o mercado de home vídeo. Tanto a versão em DVD quanto a em Blu-Ray já estão à venda em diversos sites de megastores, o que trará mais dinheiro ao estúdio.
Continua um lixo de filme.
É, dá pra ter essa interpretação também…
Confesso que gostei muito do filme. Assistiria novamente até pra similar melhor.
Quando poderei comprar o filme versão estendida ?
Renato, ela já está à venda em DVD e Blu-Ray, é só procurar.
Só uma correção, o vilão cujo arauto aparece na nave e que tem o símbolo de ômega aparecendo no pesadelo do Batman se chama Darkseid e não Darkside. De resto, ótima avaliação.
Esse corretor automático… obrigado!
Até tenho vontade de assistir, mas… A Warner/DC tem errado de tal maneira, que acompanhar as tentativas falhas exige certo esforço. É tanta coisa pra assistir, que isso acaba ficando pra trás. Um dia, quem sabe, entre amigos?
Ótimo texto, aliás.
Obrigado!
Para mim é um excelente filme! Top!
Eu não vi a versão do cinema, ouvi falar tão mal que pulei direto para a estendida. E o que mais me incomodou na versão estendida é a quantidade de eventos e detalhes que são insossos tanto no visual quanto no conteúdo. Sem contar que algumas explicações ficam parecendo “erratas”, quebrando a fluidez do filme e tornando a experiência muita cansativa. Se a Marvel já desencanou de inserir “seriedade” em suas produções, adotando um tom mais leve, eu acho que a DC/Warner ainda está presa ao universo criado pelo Nolan em seu Batman. Eles tentam criar situações “complexas”, mas tudo soa irrelevante. É decepcionante ver tanto potencial desperdiçado.
Discordo. O tom do Nolan não é incorreto, mas a aproximação com referências históricas – Cristo em Man of Steel e Alexandre o Grande em BvS – dilui os debates filosóficos, respectivamente, sobre um SuperHomem e entre a submissão ao poder estrangeiro e a submissão ao vigilantismo.
“Homem de Aço” narra a trajetória de um SuperHomem BURRO que abandona a mãe entre os inimigos para empurrar o líder deles para longe, destroi Metrópolis para salvar Metrópolis (a la Power Rangers) e é tido como herói após atrair uma invasão alienígena para a Terra.
Um dos trailers de “BvS” me prometeu um Thriller político entre Batman e Superman com constantes conflitos públicos entre seus alter-egos Clark e Bruce. Ao invés disso, me deram um drama noir sobre a investigação de Lois e Bruce (as aventuras de Batboy) sobre o plano de Lex, no qual Bruce e Clark só se confrontam naquele específico momento do trailer. Fui enganado!
Não há profundidade dramática no confronto de ideias entre os protagonistas e o antagonista junto à Holly Hunter recebem atenções demais num filme de superheroiS (destaque para o S).
Ou seja, o tom está certo, mas a abordagem é a pior possível!
Oi, Nite. Acho o tom usado por Nolan na trilogia Batman extremamente acertado. Eu não disse o contrário. Eu reclamei do tom no filme BvS do Zack Snyder. E acredito que o tom e a abordagem do filme guardam afinidades. O filme busca ser realista em relação ao funcionamento de seu mundo (Obs: derrapa feio quando aborda o Apocalypse), detalhista nos desdobramentos dos eventos e dramático em relação aos seus personagens. Em minha opinião, tom e abordagem não destoam. O meu problema é que a história não tem o peso e a complexidade que o filme tenta nos passar através do visual e narrativa. É como se Darren Aronofsky usasse o seu estilo para filmar o roteiro de Transformers.
Ótimo texto. A versão estendida deu mais sentido à trama, que se perdeu na versão que foi para os cinemas, retalhada como foi. Ficou bem melhor, embora não seja o grande filme que todos esperavam.