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Casal de novela estrela policial nacional

por Marcelo Seabra

Um juiz recém-empossado em uma cidade barra pesada da fronteira chega querendo fazer justiça e arruma confusão com o poderoso local. É uma trama corriqueira, que pode ser um bom passatempo se bem escrita, dirigida e atuada. Algo que vemos com frequência no cinemão americano. A diferença, aqui, é que Em Nome da Lei (2016) é produto nosso, tão competente quanto os de fora. E a comparação serve para o lado bom e o ruim.

Para os detratores do Cinema Nacional, é bom ver que conseguimos fazer igual ou até melhor que o padrão de fora, com tiros, drogas, beijos, lutas e tudo o mais que um filme de ação precisa. Escrita e dirigida por Sérgio Rezende, que volta a tratar de assuntos bem reais e ligados ao crime, como em Salve Geral (2009), a obra é produzida pela Globo Filmes e tem cara de minissérie. Não que isso seja ruim esteticamente, já que as produções televisivas andam cada vez mais bonitas, mas a similaridade fica por conta da previsibilidade, que nos permite sempre saber o que vai acontecer, alternando ações dos dois lados da lei. O juiz ataca, o traficante contra-ataca e assim segue.

 

No papel principal, como o juiz jovem, obstinado e arrogante, Mateus Solano (de Confia em Mim, 2014) traz um pouco dos trejeitos de um personagem de moral duvidosa que viveu numa novela e parece estar sempre escondendo algo. Nessa mesma novela, sua irmã era vivida por Paolla Oliveira (de Trinta, 2014), que agora é o interesse romântico, a promotora que faz parceria com o juiz. Completa o trio do bem Eduardo Galvão (da série Questão de Família), o menos estereotipado dos heróis, como o chefe da Polícia Federal na região. O papel do vilão fica para Chico Díaz (no ar atualmente em Velho Chico), veterano acostumado a ser malvado e a falar espanhol, e é quem mais parece estar à vontade em cena. O destaque negativo fica para a esposa do sujeito, uma dondoca exagerada no mundo da lua.

Inspirada pela carreira do juiz federal Odilon Oliveira, a trama é extremamente romanceada e poderemos esperar pelos clichês de sempre. O capanga mau tem um caso com a filha do chefe, numa tentativa de dar a ele um pouco de profundidade. Os protagonistas, de cara, demonstram um interesse que sabemos que vai logo desabrochar. O grande vilão é amigo do delegado e tem passe livre. É daí em diante. Alguns momentos de tensão salvam o roteiro de ser um fracasso, mas não é para se esperar muita emoção. Há também cenas com humor, mesmo que meio fora de lugar, proporcionadas por um oficial de justiça inusitado.

O roteiro, que também conta com Rafael Dragaud (de Minha Mãe É uma Peça: O Filme, 2013) e Rodrigo Lages (também de Questão de Família), tenta proporcionar uma discussão ética relacionada a lei, justiça e vigilantismo, mas fica bem rasa. O resultado é um divertimento bem cuidado tecnicamente que poderá ser esquecido assim que a última casquinha de milho sair dos dentes.

O vilão, mesmo raso, rouba a cena na pele de Díaz

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Gosto mais quando um filme brasileiro ataca na raiz do nosso próprio país, como Cidade de Deus e Tropa de Elite fazem com maestria. Filme como "Reza a Lenda" que tentam importar algo não resultam, para mim, em algo legal… Mas tenho que dar uma chance a "2 coelhos", por exemplo.

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