Ian McKellen leva Sherlock à velhice

por Marcelo Seabra

Em meio a tantas versões atuais de Sherlock Holmes, seria difícil imaginar que veríamos algo novo envolvendo o personagem. É aí que surge o grande Ian McKellen para viver o maior detetive de todos os tempos em seu ocaso, perto da senilidade, em um longa que inacreditavelmente passou batido do grande público. Mr. Holmes (2015) já está na programação da TV a cabo e deve ser apreciado com calma e foco, para que se tenha atenção para os detalhes de interpretação, roteiro e cenografia, tudo muito bem cuidado.

Bill Condon, depois dos dois episódios finais do novelão Crepúsculo, voltou a fazer um longa digno de nota. Para isso, trouxe McKellen, mais lembrado hoje como o Magneto sênior de X-Men, com quem trabalhou no ótimo Deuses e Monstros (Gods and Monsters, 1998), e Laura Linney, do seu Kinsey (2004) – ambos indicados a diversos prêmios por esses papéis. Coube a Jeffrey Hatcher (de A Duquesa, 2008) a adaptação do livro de Mitch Cullin, que traz Holmes já se esquecendo de fatos e pessoas, aos 93 anos, aproveitando a calma de sua aposentadoria em um sítio em um vilarejo bucólico.

Enquanto passa seu tempo cuidando de abelhas, o ex-detetive tenta se lembrar de seu último caso, que o levou a se retirar da vida pública. As histórias de seu grande amigo, o falecido Dr. Watson, trouxeram a ele notoriedade, mas nem tudo era verdade. Watson gostava de celebrar o heroísmo de Holmes em suas investigações, mas uma delas fez com que ele não quisesse mais se envolver com clientes. Entre suas lembranças, Holmes ainda conta com a companhia do inteligente filho de sua governanta (vivida por Linney). O garoto (Milo Parker) suga o que pode das histórias e da vivência do amigo, e é essa amizade o cerne do filme.

Para quem espera algo na linha das encarnações de Robert Downey Jr., Benedict Cumberbatch ou mesmo Jonny Lee Miller, é bom adiantar a total falta de similaridade. Mr. Holmes contrasta o mito criado por Watson e sua literatura – que Sherlock considera barata – e a pessoa dita real, que chega a ir ao cinema assistir a um filme sobre um de seus casos. O verdadeiro Holmes teme perder sua memória e suas habilidades dedutivas, o que sempre mantinha sua mente ágil e afiada, e chega a buscar remédios naturais contra os efeitos da demência. Mas é no relacionamento com os próximos que ele vai encontrar sua salvação, e finalmente descobrir que estar certo não é sempre o melhor final.

Até os mitos envelhecem

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • Fiquei interessado após ler a sua visão.
    Daí olho o que está passando nos cinemas... e choro.
    Daí olho o preço no iTunes e... choro mais.

    • Raphael, Mr. Holmes está na TV a cabo, confira a programação que você acha. Abraço!

      • Nah, não tenho nem TV aberta aqui hahahah… Só assisto NetFlix, iTunes/Google Play e locações físicas (raras, atualmente ?) hahahhaah… Mas obrigado pela dica ??

  • Pior que Sr. Holmes estreou nos cinemas do Brasil... em uma sala no Rio de Janeiro no começo do ano.Provavelmente estreou lá devido ao convênio com a operadora de tv paga (no caso, a NET). Foi lá que tive a oportunidade de assistir ao filme, que gostei bastante.

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