Novos Griswolds voltam a ter Férias Frustradas

por Marcelo Seabra

A nostalgia começa junto com o filme, com os créditos ao som da clássica Holiday Road, de Lindsey Buckingham. A música é o tema recorrente da franquia Férias Frustradas (Vacation), aparecendo em três dos quatro primeiros filmes. Agora, na nova jornada dos Griswolds, temos basicamente a mesma premissa da primeira, mas com o filho do casal, já crescido e na pele de Ed Helms (da trilogia Se Beber, Não Case). O adulto Rusty decide levar a esposa e os filhos ao Wally World, o mesmo lugar onde foi com os pais e a irmã quando eram mais novos.

O cartaz do longa pergunta o que pode dar errado. Claro que se trata de uma brincadeira com o óbvio: tudo vai dar errado na viagem dos Griswolds. Mas a pergunta pode ser levada ao lado de cá da tela: o que pode dar errado quando se pega personagens criados pelo amado John Hughes e se requenta a história filmada por Harold Ramis em 1983 – e que ainda deu frutos em 1985, 1989 e 1997? Pra quem é fã de Chevy Chase e seu Clark Griswold, é quase um desejo que o filme seja bom. Mas o resultado é um amontoado de situações exageradas misturadas com as mesmas trapalhadas já vividas pela família, com pequenas variações.

É claro que as gerações mais novas nunca nem ouviram falar dos personagens, o que torna compreensível aproveitar as velhas piadas de Hughes. Para os mais velhos, há metapiadas muito espirituosas, como quando Rusty está explicando que estas serão férias diferentes das que teve quando pequeno, apontando algumas diferenças entre os filmes. Ele chega a afirmar que estas férias se sustentarão sozinhas, como se estivesse anunciando o início de uma nova franquia. E não é que falte humor, dá para rir um pouco. Mas pouco mesmo! Muito tempo sem acontecer nada de mais e piadas criadas em cima de situações muito irreais afastam o público, que não consegue se envolver com seus heróis. O que é, por exemplo, que viram de engraçado com aqueles recursos do carro?

Depender demais das referências e da memória afetiva do público não basta. E um bom elenco é desperdiçado. Helms e Christina Applegate (de Passe Livre, 2011) vivem o casal protagonista, a quem cabe a maioria das apelações dos roteiristas e diretores estreantes, John Francis Daley e Jonathan M. Goldstein (que escreveram os dois Quero Matar Meu Chefe). A participação de Chris Hemsworth (mais conhecido como Thor) chega a extremos desnecessários, enquanto Charlie Day (de Quero Matar) é o irritante de sempre. Leslie Mann vive a irmã de Rusty, Audrey, e tem poucos e repetitivos diálogos. Há algumas pontas, como Colin Hanks, Michael Peña, Norman Reedus e Regina Hall, umas ainda mais fracas que outras. E o que dizer do suposto vilão (Ron Livingston, de Invocação do Mal, 2013), um babaca com o poder de aparecer em momentos improváveis?

Qualquer fã dos Griswolds esperaria mais desse novo Férias Frustradas. Como o orçamento ficou relativamente pequeno, na casa dos US$ 31 milhões, e a arrecadação mundial já alcança os US$100 milhões, não é difícil prever uma continuação. A torcida é por um produto melhor, mais criativo, que não se contente com um punhado de releituras e que tenha graça. Tocar Holiday Road no começo, meio e fim, inclusive com versões diferentes, não é suficiente.

Família unida para mais trapalhadas

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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