Série alemã traz novo olhar sobre a Segunda Guerra Mundial

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Lançada na Alemanha em 2013, Os Filhos da Guerra (Unsere Mütter, Unsere Väter), que estreou no dia 31 de agosto na Globo no belo horário conhecido como “depois do Programa do Jô”, ou seja, bem tarde da noite, merecia um tratamento melhor no que diz respeito à sua exibição, pois se trata de uma série bastante interessante. Dividida em três episódios de aproximadamente 90 minutos cada (que serão divididos em 5 episódios de aproximadamente uma hora cada na emissora carioca), ela mostra a Segunda Guerra Mundial da perspectiva de um grupo de amigos alemães e como o conflito alterou suas vidas.

A série começa em julho de 1941, quando o quinteto formado pelos irmãos Wilhelm (Volker Bruch, de O Leitor, 2009) e Friedhelm Winter (Tom Schilling, de A Dama Dourada, 2015), Viktor Goldstein (Ludwig Trepte), Greta Del Torres (Katharina Schüttler) e Charlotte (Miriam Stein) se reúne no bar onde Greta trabalha, em Berlim, para uma despedida. Wilhem, tenente do exército alemão, e seu irmão, o soldado-pacifista Friedhelm, irão se juntar ao esforço de guerra no leste, na malfadada tentativa alemã de invadir a Rússia e dominar o país pela tomada de Moscou. Charlotte também se envolverá nessa operação, trabalhando como enfermeira no hospital militar que dá apoio ao exército alemão nessa missão. Já Greta e Viktor, ainda que não se envolvam diretamente no conflito, terão seus problemas pela frente já que são um casal e ele é um judeu vivendo na Alemanha nazista quando a perseguição a seu povo se torna cada dia mais intensa. Na festa de despedida, o quinteto faz um pacto de se reunir naquele mesmo local para comemorar o natal dali a seis meses quando, todos acreditam, a guerra já terá terminado e a Alemanha sairá vitoriosa da guerra. A partir daí, a série acompanha a vida dos cinco protagonistas – e ainda que de maneira menos profunda, a do major da SS Dorn (Mark Waschke) – durante todo o período em que estão envolvidos na guerra, ou seja, até seu derradeiro final, em meados de 1945 e um pouco após.

Os Filhos da Guerra foi bastante premiada desde seu lançamento na TV alemã, levando inclusive um Emmy internacional. A série foi bastante aclamada em sua terra natal ao mostrar ao público um olhar diferente do povo alemão durante a guerra, onde nem todo soldado nazista era um ser desalmado – ainda que haja a cota de desalmados aqui – nem tampouco toda a população do país apoiava a crença de Hitler sobre a superioridade dos arianos nem que isso os levaria à inevitável vitória. Ela também foi bastante criticada tanto dentro quanto fora da Alemanha, especialmente na Polônia e em Israel, por praticamente não tocar na ferida do Holocausto, não mostrar os campos de concentração e de extermínio e na forma como retratou parte da resistência polonesa à ocupação alemã.

Isso, no entanto, não tira os méritos de sua proposta, até porque já há inúmeros filmes e séries cujo foco é justamente mostrar as atrocidades cometidas pelos alemães – ou, pelo menos, seus soldados, oficiais e políticos – durante a guerra. Para aqueles interessados por histórias da Segunda Guerra Mundial, vale à pena dar uma conferida na série, mesmo no horário horrível em que está sendo transmitida.

O elenco de cara limpa

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Gosto bastante de seu olhar crítico Rodrigo, condiz bastante com o que penso na maioria das vezes... Tenho acompanhado, sempre que posso, suas postagens por aqui. É lamentável vê esta serie passando em um horario tão ruim, mas nao é de se surpreender vindo desta emissora, onde o pouco que é bom e permite criar senso critico fica para depois das 01:00 da madrugada.

  • A série é excelente de fato, foi ótimo ver pela primeira vez a guerra pelo lado alemão. Feita as ressalvas comentadas no texto acima, é importante destacar que nem mesmo os mocinhos são a personificação da bondade e, justificáveis ou não, em uma guerra sempre haverá atrocidades pelos dois lados.

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