Charlize Theron investiga a chacina da própria família

por Marcelo Seabra

Lembra daquela história dos três de West Memphis? Garotos bestas que se diziam satanistas, vestiam preto e ouviam heavy metal foram acusados de assassinatos e estas preferências foram o suficiente para condená-los. É fácil supor que esse fato – terrível, claro! – tenha inspirado Gillian Flynn a escrever Lugares Escuros, que agora chega aos cinemas (Dark Places, 2015) seguindo o sucesso de Garota Exemplar (Gone Girl, 2014), também escrito por ela. E é exatamente por isso que a história chega com um ar de requentada. Logo percebemos as similaridades com o caso famoso que inclusive foi retratado recentemente no Cinema em Sem Vestígios (Devil’s Knot, 2013).

Ter Charlize Theron a bordo garante uma parte do sucesso do projeto. A atriz, que também é produtora do longa, traz muita paixão às personagens que vive, e com Libby Day não seria diferente. Sem chamar muita atenção, na medida do possível, ela passa o filme inteiro no modo econômico, falando o mínimo e demonstrando mais. Não tão desconstruída quanto em Mad Max: Estrada da Fúria (Fury Road, 2015), ela fica de jeans, camiseta e boné, linda como sempre (OK, exceto em Monster, 2003, com toda aquela maquiagem). E competente, como vem mostrando a cada novo trabalho. Também do novo Mad Max, Nicholas Hoult é o outro nome principal do elenco, que inclui ainda Chloë Grace Moretz (de O Protetor, 2014), Christina Hendricks (de Mad Men), Corey Stoll (de The Strain), Drea de Matteo (de Sons of Anarchy) e Tye Sheridan (de Amor Bandido, 2012).

A história é a seguinte: uma menina e seu irmão adolescente são os únicos sobreviventes da chacina da família Day numa cidadezinha rural do Kansas. O garoto é logo apontado como responsável e encarcerado. Era a época do pânico contra satanistas e ser acusado disso era o suficiente para acabar com a sua vida. Vinte cinco anos depois, Libby Day é procurada por um grupo de investigadores amadores que estudam o caso e oferecem dinheiro se ela se dispuser a falar sobre o assunto. Precisando pagar o aluguel, ela topa e entra de cabeça numa trama que a assombra desde sempre e da qual ela nunca teve certeza alguma. Ela e seu jovem contratante vão levantar dados e entrevistar pessoas na esperança de trazer alguma luz ao acontecido.

Durante a investigação, fatos vão surgindo e trocando a identidade do suspeito número um, que pode ser Ben Day ou qualquer outro personagem. Conhecemos uma fartura de gente, que vão entrando e saindo à medida que são necessários, e acaba se tornando uma questão de tempo chegar ao final, sem suspense ou tensão. A fotografia mais crua de Barry Ackroyd (de Capitão Phillips, 2013) dá uma ideia de sujeira, de algo escondido, o que funciona bem. Mas não é o suficiente para fazer funcionar a adaptação do diretor e roteirista Gilles Paquet-Brenner (de A Chave de Sarah, 2009).

Lugares Escuros, o livro de Gillian Flynn, foi publicado antes de Garota Exemplar, que virou um ótimo filme nas mãos de David Fincher. Sobrou apenas uma obra da escritora sem adaptação, a primeira, mas isso já foi anunciado: Objetos Cortantes vai para a TV. Hora de procurar outra fonte. Ou de escrever outro livro.

Theron e Hoult repetem a dupla de Mad Max: Estrada da Fúria

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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