por Marcelo Seabra
Depois de concluir que fazer Cinema era algo desnecessariamente trabalhoso e que não queria mais ter que passar por situações como ter que levantar fundos e lidar com estúdios, Steven Soderbergh se despediu (temporariamente?) desta mídia. Lançou Terapia de Risco (Side Effects, 2013) e partiu para a TV, realizando o bem sucedido Minha Vida com Liberace (Behind the Candelabra, 2013). Seu projeto seguinte já está em exibição na HBO e promete ser igualmente interessante: The Knick, série que pretende mostrar casos médicos em um grande hospital americano. A forma de diferenciar o projeto dos demais dessa área é ambientar a trama no início do século XX, quando a medicina era executada por um misto de médicos, artistas e inventores.
Além de contar com um nome famoso na direção e ter esse diferencial temporal que pode trazer novos ares ao gênero médico da TV, a série ainda conta com Clive Owen à frente do elenco. Mais um a fazer a ponte para a telinha, Owen (de Confiar, 2010) é o médico chefe da equipe do Knickerbocker, hospital de Nova York que cuida prioritariamente de imigrantes e indigentes. Enfrentando casos complicados e/ou aparentemente sem solução, o Dr. John Thackery precisa ser criativo nas formas de abordar os problemas que surgem. Aparelhos elétricos e instrumentos soldados eram alguns dos recursos disponíveis, apesar de a própria energia elétrica ainda ser um desafio. Como bons moços estão em baixa na ficção, Thackery é dado a visitas a bordéis e mantém um forte vício em cocaína. Mas não deixa de ter grande empenho no tratamento dos pacientes e nas cirurgias que lidera, completando a personalidade paradoxal que todos os programas da atualidade parecem buscar para seus protagonistas.
No primeiro episódio, conhecemos o Dr. Algernon Edwards (André Holland, de 42: A História de Uma Lenda, 2013), contratado para o Knick pelos benfeitores do hospital. Para que eles continuem bancando as contas, a permanência do novato é exigida. O problema é que se trata de uma sociedade altamente racista e, para a surpresa de todos, o protegido dos Robertsons é negro. Por sua recusa em trabalhar com o novo colega, Thackery pode ser colocado junto da multidão e visto como preconceituoso. Mas dois motivos práticos e plausíveis são apontados por ele para justificarem o veto: há um médico na equipe que merece o reconhecimento, o que seria mais justo que trazer alguém de fora; e a própria população da cidade é racista, o que traria problemas no atendimento a eles por um médico que não teria boa aceitação.
A reconstituição de época em The Knick é primorosa, com carruagens e prédios antigos nas ruas e instalações que realmente parecem ser do início do século passado. Além de todo o cuidado tomado com cenários e figurino, como na cena em que Cornelia Robertson (Juliet Rylance, de Frances Ha, 2012) se veste, há um notório consultor e estudioso da medicina, o Dr. Stanley B. Burns, dando consultoria, o que traz mais veracidade e aspectos curiosos à produção. Como tudo que cerca é extremamente bem cuidado e a performance de Owen é, como sempre, irrepreensível, basta o cerne funcionar para que a atração seja mais um sucesso exibido pelo grupo HBO. Os dez episódios desta primeira temporada vão dizer se veremos a segunda. Os criadores, Jack Amiel e Michael Begler, já estão empenhados.
Do meu ponto de vista The Knické diferente e ainda melhor do que o Dr. House, embora ambos são bons eu prefiro definitivamentemente A Knicks.