por Marcelo Seabra
Além dos blockbusters que acabam levando a maioria do público aos cinemas, há filmes menores que merecem uma conferida. Afinal, a vida não feita apenas de Guardiões da Galáxia, Tartarugas Ninja e Mercenários. Há também, em cartaz no país, Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive, 2013), nova obra do cultuado diretor Jim Jarmusch, e Chef (2014), a volta de Jon Favreau aos filmes de baixo orçamento depois de entrar no Universo Marvel.
Depois de comandar longas como Daunbailó (Down by Law, 1986) e Flores Partidas (Broken Flowers, 2005), Jarmusch atingiu um status de cult, aumentando as expectativas sobre seus novos projetos. Mas nem assim os lançamentos chegam rápido ao Brasil. A estreia em Cannes ocorreu em maio do ano passado, e só agora Amantes Eternos entra no circuito comercial. Com Tom Hiddleston no elenco, mais conhecido como Loki, era de se esperar um tratamento melhor. E, fazendo par com o ator, temos a ótima Tilda Swinton (de Moonrise Kingdom, 2012).
Adam e Eve (vividos por Hiddleston e Swinton) são um casal nada convencional. Juntos há centenas de anos, eles moram em continentes diferentes e se encontram de tempos em tempos. Enquanto isso, cultivam seus hobbies de forma independente e crescem como indivíduos, se tornando mais cultos e refinados. Vez ou outra, precisam buscar sangue humano para saciarem a fome que insiste em voltar. Mas atacar pessoas (ou zumbis, como eles chamam) é coisa do passado, eles trabalham com fornecedores de confiança. Beber sangue contaminado pela variedade de drogas e doenças que vemos hoje deve ser bem complicado.
Com diversas referências pop, Jarmusch constrói personagens interessantes, evoluídos, que buscam felicidade e rejeitam violência, fama e qualquer outro prazer efêmero. Mas, em meio a toda esta tranquilidade, eles terão que aturar a visita da irmã mais nova de Eve, Ava (Mia Wasikowska, de Segredos de Sangue, 2013), que representa as gerações mais jovens e imediatistas e sempre significa problema. Completando o bom elenco, Anton Yelchin (de Star Trek) é o facilitador de Adam, que consegue o que ele precisa; John Hurt (de O Espião Que Sabia Demais, 2011) é o amigo e confidente de Eve; e Jeffrey Wright (de Jogos Vorazes) se encarrega de fornecer sangue a Adam. Todos muito bem em seus papéis, ajudando a construir um mundo rico e de possibilidades bem superiores aos outros muitos chupadores de sangues que vemos por aí.
A nova incursão de Favreau atrás das câmeras não tem o mesmo êxito. Chef é uma comédia mediana que comete o mesmo pecado que é mencionado no filme. O crítico de restaurantes interpretado por Oliver Platt (de A Filha do Meu Melhor Amigo, 2011) classifica a refeição do grande chef de cozinha de Favreau como mediana por seu autor não inovar em nada, preferindo ficar em terreno seguro. Essa crítica dá início a um filme que é exatamente isso: algo bonitinho, que não desagrada ninguém e termina em alto astral, com direito a música e tudo. Aliás, as músicas, muito inspiradas, acabam roubando as cenas em que tocam, se tornando o único diferencial do longa.
Para garantir público e financiamento, Favreau chamou vários amigos para os diversos papéis que cruzam a tela. Por isso, vemos John Leguizamo, Bobby Cannavale, Scarlett Johansson, Dustin Hoffman, Sofía Vergara e Robert Downey Jr., uns com mais ou menos destaque. A maioria, no entanto, no piloto automático. Vergara (ao lado), ruim como sempre, e Hoffman, estranhamente apático, são os pontos baixos, e Downey Jr. faz uma versão mais afetada de seu Tony Stark.
Favreau realiza uma obra sem qualquer ambição e, mesmo sem correr riscos, ainda dá algumas derrapadas. Tudo se encaixa bem, tudo à volta do protagonista funciona, sendo ele a única peça que não ajuda. Basta ele perceber isso para sua vida fique perfeita. É muita artificialidade para um filme só. O negócio é se concentrar nas músicas, num ritmo que parece ser um jazz latino, e acompanhar o jovem Emjay Anthony, o garotinho que parece ser o único ali levando tudo muito a sério e, ao mesmo tempo, se divertindo.