Tornatore e Rush oferecem O Melhor Lance

por Marcelo Seabra

Mais lembrado por ter escrito e dirigido o belíssimo drama Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso, 1988), o italiano Giuseppe Tornatore agora assina O Melhor Lance (La Migliore Offerta, 2013), suspense moderado que fez alguns críticos desmedidos chegarem a mencionar o nome Hitchcock em suas análises. Fora a comparação absurda, a obra de fato consegue criar uma atmosfera de tensão interessante, e ainda tem um grande trunfo: contar com mais uma ótima atuação de Geoffrey Rush – conhecido pelo grande público como o Barbossa da milionária franquia Piratas do Caribe.

Com locações em cidades européias, a classe do longa é reforçada pela elegância do personagem de Rush, um importante leiloeiro que domina seu trabalho como nenhum outro, mas tem dificuldades na relações pessoais. Os que mais se aproximam da figura de amigo para Virgil Oldman são Billy (Donald Sutherland, de Jogos Vorazes), um trambiqueiro que o ajuda a arrematar quadros importantes por uma quantia bem inferior, e Robert (Jim Sturgess, de A Viagem, 2012), um jovem restaurador que faz pequenos trabalhos para ele. Não há uma mulher em sua vida e sua solidão chega a ponto de comemorar seu aniversário sozinho. Só seus quadros lhe fazem companhia.

Uma cliente, no entanto, se torna uma obsessão: a rica órfã Claire Ibbetson (Sylvia Hoeks) contrata a firma de Oldman para fazer um inventário das muitas obras deixadas por seus pais. Instala-se um jogo de gato e rato entre eles, já que Claire se recusa a aparecer pessoalmente, só tratando por telefone. O mistério que cerca a jovem vai tirar o experiente leiloeiro de sua zona de conforto, e uma sensação de que há algo errado vai ficando mais forte. A sutileza da interpretação de Rush dá lugar a repentinos acessos de raiva que mostram os extremos do talento do ator, que sempre evita qualquer caricatura nessa cuidadosa composição. De longe, é o artista em cena que mais chama a atenção e mantém em si o olhar do espectador. O que, quando Sutherland aparece, não deixa de ser uma tarefa difícil.

Outro fator de O Melhor Lance a ser destacado é a composição dos cenários. A riqueza dos personagens não inclui exageros e é sempre ressaltada por objetos e figurinos finos, que denotam berço, por parte da garota, e requinte, por Oldman. Tornatore usa todos esses elementos para criar um bom clima de suspense, que vai crescendo até chegar ao final, que pretende ser surpreendente. A vantagem, para o cineasta, de deixar as coisas em aberto é que cada um interpreta como achar que deve, e quem não gostar é acusado de querer tudo redondinho, fechado. Mas excesso de pontas soltas pode levar a buracos, insatisfações e pulgas atrás da orelha. Não chega a estragar a experiência, que vinha sendo bem acima da média. Só segura o resultado pra baixo.

O diretor conduz seu protagonista

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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