Marvel arrisca e acerta com Guardiões da Galáxia

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Com Capitão América 2 (Captain America: The Winter Soldier, 2014), a Marvel Studios saiu um pouco de sua zona de conforto – os filmes de super-heróis cheios de ação e aventura – para pintar seu universo com cores mais cinzentas e adentrar o mundo sombrio das tramas de espionagem. Visando continuar essa expansão, em outra direção, Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy, 2014) tinha a função de levar o Universo Marvel para o espaço sideral, pavimentando o que os fãs especulam como sendo o caminho para a trama que servirá de base para Os Vingadores 3. Por mais arriscado que isso fosse, devido à completa obscuridade dos personagens, é inegável que a Marvel Studios sabe exatamente o que faz e aonde quer chegar, já que o longa é muito divertido e cumpre seu papel secundário nesse universo com bastante louvor.

Como um bom filme de origem, a trama, escrita a oito mãos por James Gunn (de Super, 2010, que também assina a direção), pela estreante Nicole Perlman e pela dupla Dan Abnett e Andy Lanning, responsáveis pela repaginação dos Guardiões nos quadrinhos, começa em 1988 quando, depois de um evento traumático, o pequeno Peter Quill (Chris Pratt, da série Parks and Recreation) é abduzido por uma nave de Saqueadores, um grupo de criminosos espaciais. Vinte seis anos depois, encontramos Peter, agora um projeto de criminoso que se intitula Senhor das Estrelas, em um planeta distante cumprindo a missão de roubar um estranho orbe a ser vendido por uma quantia obscena de dinheiro. O orbe, no entanto, é mais do que aparenta ser e a coisa toda se complica quando Peter se defronta com uma equipe a serviço de Ronan, o Acusador (Lee Pace, de O Hobbit: A Desolação de Smaug, 2013), que também está à procura do objeto. Quill foge e, ao tentar comercializar o orbe sozinho, também atrai a ira do líder dos saqueadores, Yondu Udonta (Michael Rooker, da série The Walking Dead), que coloca sua cabeça a prêmio.

Quill então passa a ser o alvo tanto de Gamorra (Zoe Saldana, de Além da Escuridão: Star Trek, 2013), uma subordinada de Ronan, quanto da dupla de caçadores de recompensas formada por Rocky, um guaxinim geneticamente modificado (voz de Bradley Cooper, de O Lado Bom da Vida, 2012) e Groot, um ser humanóide vegetal (voz de Vin Diesel, da franquia Velozes e Furiosos). Todos eles acabam se envolvendo em uma grande confusão no planeta Xandar e, ao serem presos, se confrontam com Drax, o Destruidor (Dave Bautista, de Riddick, 2013), um alienígena movido pelo desejo de vingança contra Ronan. Unidos por um objetivo em comum, os futuros Guardiões da Galáxia precisarão enfrentar seu maior desafio: salvar todo o universo da destruição planejada pelo Acusador.

Um dos trunfos de Guardiões da Galáxia é que em nenhum momento o filme se leva a sério. O que temos aqui é uma comédia de ação em que piadas são disparadas a todo minuto, que combina muito com o estilo “um bando de sujeitos disfuncionais que precisa se unir pra atingir um objetivo comum”. Apesar de apresentar diversos clichês encontrados em demais filmes do gênero, o roteiro acerta em cheio na maioria dos alvos, deixando a desejar apenas ao explorar muito pouco as motivações do Colecionador (personagem de Benicio Del Toro que aparece na primeira cena pós-créditos de Thor: O Mundo Sombrio, 2013). A direção de Gunn também funciona a contento, com o humor negro já visto em seus longas anteriores (que também contavam com participações de Rooker, Gregg Henry e Sean Gunn, seu irmão). Além dos principais, o elenco ainda conta com participações de peso, ainda que em papéis menores, como Glenn Close (da série Damages), John C. Reilly (de Detona Ralph, 2012) e Djimon Hounsou (de Como Treinar seu Dragão 2, 2014).

Com uma trilha sonora inspiradíssima e bem justificada, Guardiões da Galáxia cumpre bem todos os papéis para os quais foi planejado. É um filme divertido, expande o Universo Marvel nas telas, já que inaugura uma nova franquia, traz elementos de ligação com filmes anteriores e por vir da Marvel e, principalmente, se sustenta sozinho. Mesmo quem nunca viu nada da Marvel no cinema pode assisti-lo sem quaisquer problemas, assim como quem não conhecia os personagens.

Sobra humor, mas não falta ação no longa

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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