por Marcelo Seabra
Depois de vários trabalhos elogiados e uma clara evolução técnica, o diretor Karim Ainouz chegou a Praia do Futuro (2014), sua mais nova obra. Em cartaz pelo país, o longa ainda tem o atrativo de ter Wagner Moura no papel principal, um dos mais importantes atores do Cinema nacional da atualidade. Ter tido um bom destaque no Festival de Berlim só ajuda.
Moura, muito lembrado como o Capitão Nascimento dos dois Tropa de Elite, faz um membro do Corpo de Bombeiros que é salva-vidas na praia de Fortaleza que dá nome ao longa. Após uma tragédia, quando não conseguiu salvar uma pessoa, ele se aproxima do sobrevivente e começa a repensar sua vida. Em meio a estas reflexões, temos belas imagens da cidade e das praias, cortesia do diretor de fotografia Ali Olay Gözkaya. Por cima, músicas escolhidas a dedo, como Heroes, de David Bowie, que já fora usada no trailer.
Todo o elenco está muito bem e a novidade é o jovem Jesuíta Barbosa, que já havia sido destaque em Tatuagem (2013). Ele vive o irmão do protagonista, alguém que viu sumir seu herói de infância, a figura mais perto de paterna que tinha. Moura mostra que consegue fugir das armadilhas habituais e constrói um sujeito longe de seus maneirismos habituais, sem histrionismos ou exageros. Muito contido, seu Donato é um cara discreto, trabalhador, em busca de uma identidade. Clemens Schick (de Cassino Royale, 2006) completa o trio principal como o alemão que bagunça a vida de Donato e o leva à Alemanha. O som não ajuda muito e torna alguns diálogos incompreensíveis, mas conseguimos captar os mais importantes.
Assim como acontece com alguns filmes ditos “de arte”, Praia do Futuro termina sem dar respostas. Pios, ele deixa no ar pontas levantadas durante a sessão. E não é possível entender as ações dos personagens, que agem de uma forma que parece conveniente para o roteiro, mas sem lógica. Talvez por isso, seja um pouco difícil criar algum tipo de identificação com o protagonista. E os desdobramentos terminam bem insatisfatórios, sem conclusões para os eventos que acompanhamos.
Se, tecnicamente, Ainouz demonstra um crescimento inegável, o roteiro é um pouco deixado de lado, carecendo de um desenvolvimento melhor. Motivações são fundamentais para entendermos os porquês dos personagens, e esta é uma grande falha aqui. Um ponto muito positivo é o fato de a homossexualidade dos personagens ser apenas uma característica em meio a tantas outras, e isso não ser o foco do longa. Assim como Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), a orientação sexual do sujeito não é razão para conflito, discussão ou piada. Ela apenas está lá. Berlim, após uma mudança radical de ambientação, passa a fornecer belas paisagens. E o conflito de culturas traz mais problemas para Donato, que ainda não se acostumou totalmente àquele país. E o fim chega antes de qualquer resolução, e o público fica a ver navios.