por Marcelo Seabra
Em 2012, assistindo à televisão, Rodrigo Teixeira teve uma ideia. Produtor de longas conhecidos, como Heleno (2011) e Frances Ha (2012), ele criou um argumento que seria desenvolvido e se tornaria Alemão (2014), nova produção nacional a chegar aos cinemas. Ter a contratação de José Eduardo Belmonte (Billi Pig, 2012) garantiria alguém com experiência de direção e, como de costume, para ter atenção do grande público, seria necessário contratar para o elenco algumas figurinhas tarimbadas, muitos até do elenco da famigerada Rede Globo.
Com roteiro do estreante Gabriel Martins, Belmonte conseguiu um elenco chamativo. Cinco atores dividem o posto de principal, no papel dos policiais que se vêem presos em um barracão na favela do Alemão após a identidade deles vazar. Eles trabalhavam disfarçados, no meio da comunidade, e agora todos os bandidos locais os procuram. Estes cinco são estabelecidos como personalidades bem diferentes, mas acabam sendo um bando de estereótipos mal explicados. Há o novinho idealista (Caio Blat), o veterano explosivo (Milhem Cortaz), o responsável meio paizão que recebe todos (Otávio Muller), o ex-corrupto que procura corrigir-se (Gabriel Braga Nunes) e o infiltrado apaixonado por uma inimiga (Marcello Melo Jr.).
A comparação que muitos fizeram a Tropa de Elite não se justifica. Não se trata de um longa de ação exatamente, e as cenas mais movimentadas não convencem. O filme cresce quando se concentra na tensão claustrofóbica vivida pelos personagens, que estão sendo procurados e sabem que não haverá piedade por parte dos bandidos. Como sempre, cria-se um envolvimento amoroso que vai servir para ser explorado à frente e complicar ainda mais a situação. O vilão central, o traficante Playboy, é interpretado por um Cauã Reymond apático, que não é capaz de ser ameaçador em momento algum, perdendo até para seus capangas, que conseguem ser muito mais autênticos. Ele é claramente inspirado em figuras reais e o pano de fundo foi visto há pouco, não só por Teixeira, mas por todo o Brasil. As cenas da tomada do Morro do Alemão pelas forças armadas e da fuga dos criminosos puderam ser vistas em todos os canais de televisão em coberturas extensas.
Entre os cinco membros principais do elenco, o que destoa é Braga Nunes, que tem cara de galã de novela e parece um corpo estranho – mesmo com um cabelo ridículo. Cortaz cria um sujeito estouradinho e desconfiado que em momento algum parece uma pessoa de verdade. Os outros três conseguem um resultado melhor, mesmo o público não os conhecendo direito, o que acaba sendo um problema generalizado. Não havendo um mínimo de identificação, o espectador pouco se importa se algum deles sofrer, ou mesmo morrer. Muito tempo é gasto com palavrões e ameaças que não chegam a lugar algum.
Durante a sessão de Alemão, várias outras obras passam pela cabeça, como Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992) e Os Infiltrados (The Departed, 2006), já que há temas similares. Mas o resultado aqui não chega perto. Há momentos interessantes, outros nem tanto. Mediano é uma boa definição, o que já deixa o longa a anos luz da maioria das produções nacionais recentes.