por Marcelo Seabra
Depois de dirigir o pavoroso Man of Tai Chi (2013), Reeves voltou a só atuar e insistiu na cultura oriental. Hossein Amini (de Drive, 2011) e Chris Morgan (dos últimos cinco Velozes e Furiosos) adaptaram uma história tradicional que reforça valores caros à cultura japonesa, como lealdade, justiça, sacrifício e honra. No meio, além de magia e uma trama romântica, trataram de colocar um personagem mestiço, meio inglês, para que Reeves não ficasse tão deslocado e forçado – mesmo que o ator seja muito mais velho do que deveria. É uma forma também de criar interesse no público ocidental pela obra, como feito em Flores do Oriente (The Flowers of War, 2011). O roteiro pode ser baseado na lenda, mas não espere qualquer seriedade ou fidelidade aos fatos conhecidos.
Reeves vive um sujeito que apareceu quando pequeno na vila e foi acolhido pela família real para viver lá, mas nunca fez parte, sempre foi tratado como um serviçal, como um marginal. Quando a feiticeira do mestre rival cria uma situação e o senhor daquela terra é acusado de tentativa de assassinato, a ele é dada pelo shogun (algo como o rei de todo o país) a oportunidade de manter sua honra cometendo suicídio ritual, o seppuku. Sem um mestre a quem seguir, os samurais caem em desgraça, quando passam a ser considerados ronins. No exílio, eles juram vingança contra o mestre rival, mesmo proibidos pelo shogun. E Reeves é afastado de seu grande amor, a filha do falecido, agora prometida ao vilão.
O primeiro problema que se nota quando tantos personagens são reunidos é que não se sabe mais quem é quem, como ocorre em O Hobbit. Se você não sabe mais quem falou ou fez o que, como se importar? E o segundo seria a falta de desenvolvimento que se torna óbvia, já que não há tempo e nem interesse de se contar as histórias de cada um. Resta ao público esperar pelas cenas de batalha, que nem são lá uma beleza. No fim, você mira o seu celular na tela e aperta qualquer tecla, torcendo para magicamente conseguir acelerar o filme até o final, previsível e sentimentalóide, que tira completamente o foco de onde deveria estar. A parte sobre a cultura japonesa, então, espere sentado!
Com o novo Jack Ryan não foi muito diferente. Ligeiramente superior, no máximo. Já levado ao Cinema em quatro outras oportunidades, Ryan chega a seu quarto intérprete (só Harrison Ford repetiu a dose, ao contrário de Alec Baldwin e Ben Affleck). A Soma de Todos os Medos (The Sum of All Fears, 2002) já era uma tentativa de recomeçar a saga de Ryan, com um ator mais jovem (Affleck) e uma “história de origem”, quando ele era apenas um analista que se vê caindo de cara na ação para salvar o país. Pois isso acontece novamente e Ryan vai investigar uma suspeita a fundo, saindo de seu confortável escritório e envolvendo-se cada vez mais com os vilões. E quem seriam eles? Os russos, claro! Reforçando estereótipos e clichês, o experiente David Koepp (de Homem-Aranha, 2002, e Anjos e Demônios, 2009) e o estreante Adam Cozad criam uma história original, que não deriva de um livro de Tom Clancy, apenas usa os personagens. Só assim para usar o termo original aqui.
Situando a trama nos dias de hoje, o roteiro coloca Ryan (Chris Pine, o novo Capitão Kirk de Star Trek) como um jovem agente da CIA, ex-fuzileiro naval, disfarçado de analista financeiro, trabalhando numa grande empresa de Wall Street para descobrir possíveis financiadores do terrorismo. Quando as contas de um tal Grupo Cherevin não batem, ele pega um avião para Moscou e se encontra com o próprio Victor Cherevin (Kenneth Branagh, de Operação Valquíria, 2008). Se os russos têm algo a esconder, a vida de Ryan não vai ser fácil, e o superior dele na Companhia, Tom Harper (Kevin Costner, de O Homem de Aço, 2013), precisa ajudá-lo. Com um plano mirabolante, eles pretendem descobrir o que Cherevin está bolando e, mais uma vez, salvar a América. Mas, no meio do caminho, tem ainda a namorada de Ryan, a Dra. Cathy (Keira Knightley, de Um Método Perigoso, 2011), numa participação um pouco mais importante do que a de dama em perigo.
Bem próxima do genérico, essa aventura traz novamente russos como vilões, algo já feito algumas milhares de vezes. Nem é problema que haja mais ação nos teclados de computadores, o problema mesmo é que tudo funcione de forma bem conveniente, o tempo anda de acordo com a necessidade dos roteiristas. Em momento algum, a sensação de perigo passa perto, como acontece em 007 – Skyfall (2012) ou mesmo em Jogos Patrióticos (Patriot Games, 1992), quando Harrison Ford temia por sua família. A cronologia vai pro espaço, já que o ponto de partida, se não me falha a memória, é bem similar ao de A Soma de Todos os Medos. Branagh está no piloto automático como vilão e como diretor. Trata-se apenas de mais uma história solta de Ryan, como acontece, por exemplo, nas revistinhas da Turma da Mônica. Não importa de onde partiu ou aonde chegará, apenas acredita-se que o meio será divertido o suficiente. A Mônica costuma ter mais sucesso.
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