Uma tragédia real e um belo filme

por Marcelo Seabra

Fruitvale Station

Violência policial não é algo estranhos aos norte-americanos, ainda mais quando envolve negros. Na virada de 2008 para 2009, houve uma situação entre policiais e cidadãos que mobilizou parte dos Estados Unidos. Fruitvale Station – A Última Parada (2013) reconta esse triste momento e traz um pouco de humanidade a todos os envolvidos na tragédia. Como protagonista, Michael B. Jordan (lembrado por Poder Sem Limites, 2012, e pela série Friday Night Lights) abraça a oportunidade e chama a atenção, construindo um personagem tridimensional e evitando as armadilhas de levá-lo aos extremos, seja da bondade ou da maldade.

Oscar Grant era um sujeito comum, que se dividia entre a vida familiar com a namorada e a filha, dar atenção à mãe e trabalhar. Havia sido demitido do supermercado e ainda tentava voltar. No meio do caminho, descobrimos que ele cumpriu pena por algum crime relacionado a drogas e não está totalmente fora dessa vida. Cuidadosamente, o diretor e roteirista Ryan Coogler vai construindo Oscar, com poucas liberdades, se atendo a depoimentos e entrevistas com familiares e amigos. Quanto menos se falar da história, melhor, já que nem todo mundo sabe o que houve. Graduado na USC em Cinema, Coogler desenvolveu o projeto e conseguiu apoio com Forest Whitaker, que produziu o longa e serviu de mentor ao jovem estreante.

Fruitvale Station

Além de Jordan, que usa seu talento e carisma para mostrar Oscar como um ser humano com falhas e acertos, há outros nomes no elenco que merecem aplausos. Melonie Diaz faz a namorada de Grant, e consegue bem ir da fragilidade à força, assim como Octavia Spencer, que vive a mãe dele. Ao contrário da composição exagerada de Histórias Cruzadas (The Help, 2011), que inexplicavelmente lhe rendeu um Oscar, Spencer se mostra uma boa intérprete e desenvolve bem as relações com os demais personagens. Tudo funciona para ajudar o público a entender melhor a situação e ver o acontecido como mais que apenas estatística. Era esse o desejo de Coogler, segundo diversas entrevistas que ele deu por ocasião do lançamento do filme.

Para dar ainda mais autenticidade, as filmagens passaram pelos locais reais que são retratados, inclusive a fatídica estação de trem que dá nome à obra, na Bay Area. A verdadeira prisão de San Quentin também aparece, e filmagens amadoras do ocorrido acabaram incluídas. Com tanto detalhismo e carinho pelo projeto, Coogler viu Fruitvale Station levar vários prêmios por onde passou, incluindo Sundance, Cannes e o sindicato dos produtores. No Brasil, já está em cartaz, e vai acabar lembrando um episódio parecido, também levado ao Cinema, envolvendo um dos nossos. Infelizmente, violência e injustiça estão pelo mundo, e Oscar foi apenas um caso – de muitos.

Isso não podia dar certo...

Isso não podia dar certo…

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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0 respostas para Uma tragédia real e um belo filme

  1. Leonardo disse:

    Interessante…
    Não havia ouvido falar deste filme, mas seu texto me animou. Ainda mais pela autenticidade dos locais, que dá mais realidade a qualquer longa, ainda mais um como este, que é baseado em fatos verídicos, mostra bastante sensibilidade do diretor. Realmente me interessou.

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