Walter Mitty ganha vida nova no Cinema

por Marcelo Seabra

Walter Mitty é o típico sujeito que vê a vida passar diante de seus olhos, com medo de tomar uma atitude e correr atrás do que quer. Pior até, ele tem momentos de “sair do ar” em que fica imaginando algo melhor do que o que realmente está acontecendo. Obviamente, quem já viu alguns filmes sabe que algo vai acontecer para tirar Walter deste torpor, e é aí que engrena A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty, 2013), nova adaptação do conto escrito em 1939 por James Thurber. O nome Walter Mitty (e derivados) é usado comumente por americanos para descrever uma pessoa que prefere seus feitos fictícios à realidade, tamanha é a importância do personagem.

Adaptada para o Cinema em 1947 com produção de Samuel Goldwyn, agora é o filho dele quem cuida da nova versão. Depois de várias alterações na equipe escalada e diversos adiamentos, Samuel Goldwyn Jr. trouxe Ben Stiller para o papel principal e o ator acabou assumindo também a cadeira de diretor. Stiller já havia desempenhado função dupla, como nas comédias Zoolander (2001) e Trovão Tropical (Tropical Thunder, 2008), e contou com roteiro de Steve Conrad (de À Procura da Felicidade, 2006).

No conceito original, como bolado por Thurber, Walter é alguém com uma imaginação imensa que se vê em situações heróicas e absurdas quando, na verdade, está fazendo algo prosaico e rotineiro, como esperar a esposa ao fazer compras. Para esta nova versão, as coisas foram ligeiramente alteradas, para permitir um desenvolvimento maior. Ele é um cara pacato que nunca fez nada de mais na vida, nunca visitou um lugar legal. Quando supostamente perde o negativo da foto que estamparia a capa da última edição da revista onde trabalha há muitos anos, ele não vê outra opção a não ser sair pelo mundo atrás do fotógrafo recluso (numa participação pequena, mas importante, de Sean Penn – abaixo) que poderia ter ficado com o negativo por acidente.

Claro que não poderia faltar um interesse romântico para Walter, há uma contadora na empresa admirada em segredo por ele. Tudo é muito certinho e esperado, sempre com o objetivo de empurrar o público a perseguir seus sonhos. É praticamente um filme de auto-ajuda, com diversas mensagens motivacionais marteladas com certa insistência, o que fica um tanto aborrecido. As sequências de “sonho acordado” de Walter, mesmo com algo de divertido, acabam ficando cansativas, já que logo entendemos que nada daquilo é verdade e, em seguida, veremos o pobre Walter sendo alvo de humilhações por ter ficado desligado por um tempo.

O antagonista criado para atazanar Walter é forçado e irritante, sem falar na barba falsa que fizeram Adam Scott (de Solteiros com Filhos, 2012) usar, que chama a atenção para sua própria artificialidade. A mocinha de Kristen Wiig (do incompreensível sucesso Missão Madrinha de Casamento, 2011) é sem sal e é exatamente o que o roteiro exige, sendo mais um estímulo conveniente para Walter sair do marasmo. Há participações menores de Shirley MacLaine (de Bernie, 2011) e Patton Oswalt (de Jovens Adultos, 2011), o que não chega a ser uma grande atração. O uso de canções pop, tanto mais clássicas (como Space Oddity e Maneater) como mais atuais (como Dirty Paws e Wake Up), é bem acertado, mas não é o suficiente para elevar A Vida Secreta de Walter Mitty a algo mais que uma sessão esquecível de um filme bonitinho.

“Acorda, Walter!”

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Fui hoje no cinema com meu marido assistir esse filme. Quase fui embora no começo. Chato, massante, parado, irritante. Meu marido me convenceu de esperar. O meio do filme, quando ele vai atrás de Sean em busca do negativo, adorei! Achei interessante, criativo, e assim foi até ele entregar o negativo pro seboso do Gerente. Porém o final quase me matou. Que coisa mais idiota! Como ele poderia estar vendo os negativos, cujo negativo estava faltando, antes dos negativos serem entregues a ele? Realmente me incomodou. Saí do cinema decepcionada, esperava um final mais inteligente!! Enfim, é uma pena!

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