por Marcelo Seabra
Para começar as tradicionais listas de fim de ano, publico a seguir meu top 5 para surpresas e decepções do ano que passou. Claro que, para um filme ser uma surpresa ou uma decepção, há a questão da expectativa envolvida. Portanto, não se trata dos melhores ou piores filmes do ano, mas daqueles que conseguiram agradar mesmo não sendo ansiosamente aguardados, e daqueles que jogaram na lama as esperanças de alguns.
O texto abaixo, publicado originalmente em duas partes, foi escrito para o site Cinema de Buteco, em uma das ótimas parcerias do Pipoqueiro em 2013, e pode ser visto aqui e aqui.
Surpresas de 2013
Entre os filmes assistidos em 2013, o primeiro a ser considerado uma surpresa foi Indomável Sonhadora (Beasts of Southern Wild, 2012), e não digo isso pelo orçamento pequeno. Filmes sobre menininhas com histórias de superação costumam ser um porre, mas esse superou o lugar comum e conseguiu ser poético e emocionante. O elenco, mesmo sem experiência no trabalho, consegue ser forte e a pequena Quvenzhané Wallis emplacou até uma indicação ao Oscar, uma das quatro do filme.
Com a moda de historinhas para adolescentes em voga, já que todos queriam ocupar a vaga deixada por Crepúsculo, era de se esperar que Meu Namorado É um Zumbi (Warm Bodies, 2013) fosse ser apenas uma bobagem. Com muito bom humor, ele mistura clichês de comédias românticas com zumbis, e a mistura dá uma boa metáfora sobre a vida em sociedade, além de ser mais um longa a mostrar como é difícil passar pela adolescência. Ainda mais estando morto! E apaixonado!
Como não sou nem um pouco fã do Evil Dead – A Morte do Demônio original (de 1981), não esperava nada dessa refilmagem lançada em abril. O uruguaio Fede Alvarez conseguiu usar a premissa do original e teve carta branca para fazer alterações, que deram mais sentido à ação dos personagens. Dando o rumo que achou melhor, o diretor e roteirista conseguiu fazer um trabalho divertido e, na medida do possível, inovador.
Ainda no gênero terror, James Wan é outro que conseguiu surpreender positivamente com seu Invocação do Mal (The Conjuring, 2013). Com uma história supostamente real, baseada nos casos do casal Warren, Wan levou a ação para um casarão antigo, onde uma família começou a ser assombrada por espíritos, e utiliza muito bem o espaço. Vultos, contrastes de claro e escuro, movimentos suspeitos e a sugestão do que está lá (ao invés de escancarar tudo) fazem a tensão crescer e a aceitação do público aumentar.
Outro gênero que dificilmente empolga é o dos filmes sobre esportes, ainda mais um elitista e aborrecido como Fórmula Um. No entanto, a rivalidade entre o inglês James Hunt e o austríaco Niki Lauda recebeu um tratamento muito feliz do diretor Ron Howard, que foi muito criativo na abordagem e nos enquadramentos e colocou o público dentro das pistas. Rush – No Limite da Emoção (2013) é uma cinebiografia que não precisa exagerar nos fatos ou mentir para empolgar, com um roteiro enxuto e objetivo do competente Peter Morgan.
Decepções de 2013
Sendo o critério o de filme mais decepcionante do primeiro semestre, precisamos levar em consideração aqueles que não cumpriram a grande expectativa que criaram no público. E nenhum filme este ano criou mais antecipação que O Homem de Aço (Man of Steel, 2013), que acabou não correspondendo. A necessidade de se recontar a mesma história que todos conhecem como se fosse algo recém criado faz com que roteiristas e diretores inventem muita moda a acabem descaracterizando personagem. Não se trata de desrespeitar os fãs, mas o próprio herói, construído ao longo de décadas por diversos quadrinistas e destruído em pouco mais de duas horas.
Outros dois filmes que, mesmo não sendo ruins, decepcionaram por desperdiçarem ótimos elencos foram Caça aos Gângsteres (Gangster Squad, 2013) e Sem Proteção (The Company You Keep, 2012). Além de atores fantásticos, Caça ainda conta com um tema muito interessante, que na mão de um escritor habilidoso (como James Ellroy e Brian Helgeland já provaram), teria dado um resultado infinitas vezes melhor, mesmo com o estilo exagerado do diretor Ruben Fleischer. E Sem Proteção envolve dezenas de personagens, todos defendidos com paixão por seus intérpretes, para não chegar em lugar algum.
Outra dupla com elenco excelente que não conseguiu alçar um voo maior foi Amigos Inseparáveis (Stand Up Guys, 2012 – acima) e Última Viagem a Las Vegas (Last Vegas, 2013 – abaixo), ambos com atores veteranos extremamente competentes vitimados por roteiros rasteiros. Enquanto o primeiro conta com Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin nos papéis principais, o segundo chega ao absurdo de reunir Michael Douglas, Robert De Niro, Morgan Freeman e Kevin Kline, todos em reencontros saudosos que rendem algumas piadas com idade e é só. Grandes talentos desperdiçados para arrancar alguns reais do público, que certamente esperava mais de seus velhos ídolos.
Menção desonrosa para Lincoln (2012) e Hitchcock (2012), duas cinebiografias de figuras muito interessantes que, mesmo com atores excepcionais, preferiram ficar no lado menos relevante: o ufanismo e a fofoca, respectivamente.
Acho que ou um dos únicos que não achou O Homem de Aço uma porcaria. Na verdade eu gostei bastante e na revisão curti ainda mais.
Discordo sobre o “Homem de Aço”. Adorei o filme!