por Marcelo Seabra
Justiça pelas próprias mãos é sempre um tema espinhoso. Vários pais do Cinema decidiram correr atrás dos filhos, sequestrados, ou mesmo caçar os assassinos, quando o pior aconteceu. É por esse caminho que segue Os Suspeitos (Prisoners, 2013), novo drama policial em que o canadense Denis Villeneuve mostra que o monstro pode morar ao lado. As coisas podem ser mais simples, ao contrário de séries de TV que trazem o psicopata da semana, e ainda assim escaparem do radar da polícia. Mas se meter na investigação seria o melhor caminho? E quem são as verdadeiras vítimas nessa situação?
O título original, Prisoners, poderia muito bem ter sido simplesmente traduzido, já que não há muitas obras com esse nome. Já com Os Suspeitos e variações, há uma fartura, começando pelo novo clássico de Bryan Singer, de 1995. E o termo prisioneiro define vários personagens, em momentos distintos. Duas meninas, de famílias amigas, são seqüestradas da casa de uma delas num dia de Ação de Graças. Logo, as prisioneiras literais estão aí. Mas há outras situações de aprisionamento, físico ou psicológico, que causam tanto dano quanto esta. Os pais, por exemplo, nunca conseguirão ter uma vida normal até ter um fechamento para o caso.
Mais uma vez mostrando sua versatilidade, Hugh Jackman, também conhecido como Wolverine, abraça o papel de Keller Dover, um pai que não se contenta com o retorno negativo dado pela polícia e resolve buscar a filha por conta própria. O principal suspeito, Alex (Paul Dano, de Ruby Sparks, 2012), é solto por falta de provas. Mas um pai desesperado não precisa de tantas provas. Pior para o Detetive Loki (Jake Gyllenhaal, de Marcados para Morrer, 2012), que se dedica ao caso com afinco e ainda precisa se preocupar com o “colega”, que acaba por ocupá-lo também. Duas boas interpretações, dois atores que sabem bem o que fazer. O destaque é Jackman, que parece sempre buscar novidades para sua carreira. Ele sofreu e cantou como Jean Valjean (de Os Miseráveis, 2012), voltou a viver o mutante nervoso (em Wolverine: Imortal, 2013) e então se deparou com esse desafio. Claro, podemos quebrar o galho dele e esquecer Para Maiores (Movie 43, 2013), que não deixou de ser mais um capítulo nessa busca.
Villeneuve, diretor do elogiado Incêndios (Incendies, 2010), faz um ótimo uso dos ambientes, das luzes e da chuva para reforçar a fragilidade psicológica em que seus personagens se encontram – ajuda muito contar com a maestria de Roger Deakins, diretor de fotografia com mais de 70 trabalhos no currículo (como Operação Skyfall, 2012). O pequeno apartamento em reforma, por exemplo, é prisão física para um, mas serve como metáfora para o outro. A esposa de Keller (Maria Bello, de Tarde Demais, 2010) se afunda em remédios para dormir, por não agüentar enfrentar a situação, e o outro casal, os Birch (Terrence Howard, de Na Estrada, 2012, e Viola Davis, de Histórias Cruzadas, 2011), não sabe se apóia ou se entrega a cruzada independente de Keller. Melissa Leo (de O Voo, 2012), competente como de costume, completa o elenco principal.
O ritmo lento, cada vez menos comum em produções americanas, ajuda a aumentar a tensão e a riqueza de detalhes espalhados pela trama. Apesar do roteiro de Aaron Guzikowski (de Contrabando, 2012) não ser redondinho, Villeneuve é hábil o suficiente e mantém o foco onde quer, ganhando facilmente a adesão do público, que mal percebe que foram 153 minutos embora. Os Suspeitos não é um filme de fácil digestão, tampouco sairá da memória rápido.
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