por Marcelo Seabra
Dois pilotos de corrida, não dos mais famosos no Brasil, viveram uma rivalidade cerrada na década de 70. É até curioso o tanto que suas vidas se cruzaram e tiveram semelhanças. De olho nessa interessante história real, o diretor Ron Howard e o roteirista Peter Morgan decidiram repetir a dobradinha do ótimo Frost/Nixon (2008) em outra cinebiografia: Rush – No Limite da Emoção (2013). Mais uma vez, eles são bem sucedidos, e ainda contam com um elenco bem afiado e adequado para cada papel.
Apesar de ter as corridas como desculpa, Rush foca na dualidade talento contra dedicação. Os pilotos James Hunt e Niki Lauda são os lados de uma mesma moeda. Enquanto o britânico é um boa vida carismático e destemido, o austríaco é meticuloso e não se importa em parecer inescrupuloso ou grosso. Ele credita seu sucesso a esse comprometimento e não agüenta ver o colega, aparentemente nada esforçado, ter sucesso. Com o tempo, um passa a ver no outro sua nêmesis, alguém que deve ser vencido naquela disputada temporada de 1976. O mais interessante do longa é não tachar qualquer um como herói ou vilão. São dois seres humanos buscando se exceder e, claro, ganhar o campeonato mundial. As vitórias de um servem como combustível para o outro. São como astros do rock do asfalto, e mortais.
Começando na Fórmula Três e chegando à Fórmula Um, os caminhos de Lauda e Hunt sempre se cruzam, aumentando a rivalidade – até na vida pessoal, diga-se de passagem. Como Hunt é um tipo simpático e querido por todos, seria fácil colocá-lo como herói, deixando para vilão o obsessivo e sisudo Lauda, que ainda era exigente com os mecânicos por entender muito do assunto. Mas o que acontece é que ambos têm defeitos, como qualquer um, e os atores potencializam as boas escolhas do roteiro. Daniel Brühl (de Bastardos Inglórios, 2009) domina as cenas em que aparece, dando profundidade a Lauda, enquanto Chris Hemsworth (ou simplesmente Thor) confere um charme a Hunt que parece irresistível, tamanho é o número de mulheres que caem a seus pés – ou em sua cama. Alguns exemplos são Natalie Dormer (de The Tudors e Game of Thrones) e Olivia Wilde (de A Fuga, 2012), lindas como sempre.
Ainda não tínhamos visto tantas imagens interessantes em um filme de Ron Howard, que costuma ser um cineasta bem convencional. Em Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind, 2001), por exemplo, ele brincava com as palavras que o esquizofrênico professor via nos jornais. Aqui, ele filma pelo capacete do piloto, há imagens de dentro do motor do carro de corrida, as tomadas das curvas das pistas tiram o fôlego e denotam a iminência do perigo que sempre espreita. Afinal, ser piloto de Fórmula Um é arriscar a vida frequentemente, que seja 100 ou apenas 20%. O diretor de fotografia Anthony Dod Mantle (de Quem Quer Ser um Milionário, 2008) teve trabalho para criar as técnicas para captar o que vemos no longa, e o compositor Hans Zimmer (de O Homem de Aço, 2013) ajuda a criar o clima com uma trilha grandiosa que casa bem com a situação.
É bom perceber que não foi necessário ser exagerado ou tendencioso para criar dramaticidade, como acontece na primeira luta de Hurricane (1999), que enfraquece o filme por insinuar algo que não estava lá em uma história que já era forte o suficiente. O roteiro enxuto e bem amarrado de Morgan apresenta o que precisamos saber e evita maniqueísmos – mesmo que caia vez ou outra na armadilha dos clichês, como mostrar mulatas sambando para introduzir o grande prêmio do Brasil. Os demais pilotos são mencionados por alto, inclusive nosso velho Emerson Fittipaldi, e há uma série de bons coadjuvantes. Mas o filme pertence mesmo a Hemsworth e, mais ainda, a Brühl.
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