por Marcelo Seabra
Juntar dois egos inflados em um mesmo filme facilmente daria algo bem ruim. Ainda mais quando se trata de M. Night Shyamalan, um diretor que misteriosamente ainda consegue trabalho em Hollywood depois das bombas que andou entregando, e Will Smith, astro que passou anos se dedicando a outros assuntos, não faz nada de relevante no Cinema há algum tempo e parece mais dedicado à carreira dos filhos. Não à toa, carregou o jovem Jaden Smith para Depois da Terra (After Earth, 2013), projeto claramente desenvolvido para garantir a Jaden um status similar ao que o pai atingiu. Ao menos, esse parece ter sido o plano.
Shyamalan já foi aquele cineasta promissor que todos iriam acompanhar, que ganhou fama com O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999) e seguiu com o igualmente ótimo Corpo Fechado (Unbreakable, 2000). Seus trabalhos seguintes, Sinais (Signs, 2002) e A Vila (The Village, 2004), dividiram opiniões, mas têm qualidades óbvias. A carreira começou a descer o barranco com o descabido A Dama na Água (Lady in the Water, 2006), uma fábula ridícula que colocou Paul Giamatti em uma enrascada. Fim dos Tempos (The Happening, 2008) e O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, 2010) não merecem mais palavras, e o caminho parecia claro para Shyamalan: aposentar as chuteiras. Mesmo com estes fracassos, ele ainda era visto como um autor, alguém com uma visão própria, ímpar. Agora, a impressão é de que ele se tornou um mero executor que vai onde o dinheiro está.
O outro grande nome envolvido é o de Will Smith, que um belo dia teve a ideia de fazer um filme sobre pai e filho que passam por um acidente de carro e o filho precisar salvar os dois. Depois de pensar mais a respeito, Smith avançou a trama mil anos no futuro, mas o foco era o mesmo: a relação entre as gerações e o amadurecimento do adolescente. Ele contratou Gary Whitta (de O Livro de Eli, 2010) para escrever a primeira versão do roteiro e foi atrás de Shyamalan, com quem ele planejava trabalhar há anos. Seria a oportunidade de repetir o feito de À Procura da Felicidade (The Pursuit of Happyness, 2006), que uniu os dois Smiths. Estava armada a cilada, como pode-se comprovar agora nos cinemas. O que acaba repetindo é o feito de John Travolta, que levou sua amada cientologia aos cinemas em 2000 com A Reconquista (Battlefield Earth) e virou piada.
Quando a projeção começa, conhecemos Kitai Raige (Jaden), um jovem militar que busca crescer na hierarquia para impressionar o pai, o General Cypher Raige (Will), o herói que fez os humanos ganharem a guerra contra uma raça alienígena que pretendia dizimá-los. Cypher volta para a casa depois de uma longa missão, apenas para emendar outra em seguida, mais curta. A esposa (Sophie Okonedo, de A Vida Secreta das Abelhas, 2008) sugere que ele leve o filho na missão, para passarem um tempo juntos. Acontece um problema incompreensível qualquer e a nave faz um pouso de emergência em terreno hostil, nada menos que a Terra, imprópria para humanos respirarem e infestada por plantas e animais predatórios. Curiosamente, o pai fica ferido e todos os demais morrem, deixando o filho responsável por salvá-los. Ele deve achar a parte traseira da nave, que contém um dispositivo que chamará socorro.
Independente da época em que se passa, trata-se da velha história de sobrevivência, somando-se aí a urgência de Kitai se tornar o guerreiro que existe apenas em sua imaginação. O general não tem muita fé no garoto, mas não tem opção e envia-o, fornecendo uma lança poderosa e suprimento de oxigênio, e os dois mantêm contato por um comunicador que tem até câmera. Tudo sob medida para que Smith e Shyamalan atinjam o resultado que buscam. O roteiro traz saídas tão convenientes que até beira o absurdo. Um exemplo é a tal criatura chamada de ursa, uma besta enorme e violenta que trucida humanos, mas é cega e encontra suas vítimas farejando o medo delas. Não tinha como ser pior.
Com um argumento mal feito e nada de emoção, a obra não consegue criar um mínimo de empatia com o público. Will segue sempre no mesmo tom de voz e completamente sem expressão, confundindo autoridade com tédio. Jaden faz o que mandam, já que seu personagem irritante e imaturo tem uma trajetória pré-fabricada a percorrer, praticamente como em um videogame. Um fiapo de trama que acredita se sustentar por 100 minutos, Depois da Terra não chega a ser ruim como os últimos trabalhos de Shyamalan, mas está longe de ser minimamente razoável.
Olhando para Jaden Smith no filme podemos obvervar um grande ator, preparado, inteligente e impressionante como é tão jovem nos rodeia eo tempo é quase nenhum oxigênio me deixou atordoado.