por Marcelo Seabra
Depois de viver o policial renegado Jack Reacher (2012), Tom Cruise partiu para uma aventura futurista com um personagem quase homônimo ao outro: Jack Harper, o “cara da limpeza” de Oblivion (2013). O longa é dirigido por Joseph Kosinski, que estreou na função com Tron: O Legado (Tron Legacy, 2010). O roteiro é baseado numa Graphic Novel do próprio Kosinski, com Arvid Nelson, ainda não publicada. Como se podia esperar, vemos cenários grandiosos e criativos, efeitos bem desenvolvidos e o mais importante: questões ligadas à existência humana, o que não poderia faltar numa ficção-científica que se preze.
Depois de uma guerra entre humanos e uma raça alienígena, a Terra venceu, mas não tinha prêmio para levar. O planeta foi destruído e todos foram viver numa lua de Saturno. Para manter a vida lá, é preciso retirar água dos oceanos e torná-la potável. As máquinas que realizam esse processo são constantemente atacadas por seres chamados de Saqueadores, e a segurança delas é mantida pelos drones, robozinhos com artilharia pesada. Jack Harper é uma mistura de técnico e militar cuja função é manter os drones funcionando, indo às áreas de guerra contra os Saqueadores para resgatar e consertar máquinas danificadas.
Flashes de uma época que Harper não viveu o perseguem em sonhos e ele sente uma grande melancolia ao passar por lugares antes muito visitados e importantes, hoje destruídos. O longa começa com uma certa frieza, já que tudo é muito limpo, impessoal, com cores claras, e vai mudando à medida que Harper descobre algumas verdades sobre a realidade. As cores vão esquentando e as relações entre os personagens ficam mais naturais. Nesse ponto, o entendimento pode ficar um pouco comprometido, já que descobrimos tudo na garupa do personagem, mas logo as peças se encaixam. Até a geografia é complicada, e suspeito que não faça sentido sempre. O volume de ação não é o usual dos filmes com Cruise, o que é bom: há tempo para desenvolvimentos necessários.
Além de Cruise, que obviamente ganha mais destaque, os demais nomes do elenco de Oblivion foram bem escolhidos. Olga Kurylenko (de 007 – Quantum of Solace, 2008) é a única mais fraquinha, sem muita expressão, e sua personagem não permite aparecer muito. Andrea Riseborough (de Pior dos Pecados, 2010) mais uma vez mostra que é um nome à beira da fama, mudando de emoção com uma facilidade enorme. O Beech de Morgan Freeman não é muito diferente do Lucius Fox da trilogia Batman, com Nicolaj Coster-Waldau (de Mama, 2013) ao seu lado. Temos ainda Melissa Leo, que faz como em O Voo (Flight, 2012): uma participação menor, mas significativa.
Cruise compensa suas limitações artísticas com muito esforço físico e dedicação, sem nunca perder a preocupação com o visual. Tudo nele parece sempre estar no lugar certo, começando pelo cabelo. Tirando a vaidade, é interessante notar que é um traço do personagem buscar ser o mais livre possível, o que significa não ficar o dia todo com o uniforme designado a ele, caso da resignada colega Victoria (Riseborough). O boné dos New York Yankees, por exemplo, é um claro indicador do apego dele a coisas pequenas com um grande significado. A condição em que Harper se encontra é como o Montag de Fahrenheit 451 (1966) e há ainda referências claras a 2001 – Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968), além de temas similares ao mais recente Lunar (Moon, 2009). O que coloca Oblivion em muito boa companhia.