por Marcelo Seabra
Um projeto com Al Pacino sempre chama a atenção. Ele é um desses raros atores que arrastam o público aos cinemas sem que se saiba ao menos o tema do longa. Tudo bem que ele teve sua cota de bombas, como Gigli (2003) e uma produção do Adam Sandler que nem vale a pena mencionar, mas sua moral continua alta entre os fãs. Dessa vez, ele se uniu a outros dois ótimos veteranos, Christopher Walken e Alan Arkin, para contar uma história de criminosos da velha guarda se reencontrando. Amigos Inseparáveis (Stand Up Guys, 2013) é marcante por reunir este trio, e só. Se fossem outros atores, o filme certamente não teria recebido atenção alguma, indo direto para a TV a cabo. O que acontece também com O Último Desafio, Duro de Matar 5 etc.
O fraco roteiro do estreante Noah Haidle começa com Val (Pacino) saindo da cadeia após 28 anos de pena. Ao longo da projeção, ficamos sabendo os detalhes sobre a condenação. Do lado de fora da penitenciária, está Doc (Walken) esperando, e ele leva o amigo para tirar o atraso e se divertir um pouco. A turma estará completa quando eles conseguirem resgatar Hirsch (Arkin), o terceiro “mosqueteiro”, aquele com a saúde mais debilitada. Juntos, os três pretendem viver uma última aventura antes que cada um siga o seu caminho. Isso, ao som das canções originais de Bon Jovi, responsável pela trilha.
O projeto é anunciado como uma comédia, mas tem no máximo algumas cenas engraçadinhas. Qualquer interesse que o filme desperte depende exclusivamente de seus intérpretes, que conseguem transformar um diálogo repetitivo (sobre “os bons tempos”, por exemplo) em algo minimamente relevante. Al Pacino assume seu modo exagerado, em um equilibrado contraponto à atuação calma e calculada – quase apática – de Walken, que misteriosamente repete os mesmos trejeitos em todo trabalho e, mesmo assim, é frequentemente bem sucedido. Arkin, em alta desde o Oscar por Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006) e mais ainda após a nova indicação por Argo (2012), tem uma participação mais discreta, mas tão competente quanto as dos colegas.
Para reunir atores desse nível, imagina-se que o diretor é um sujeito poderoso, com amigos nas altas esferas, ou que ao menos tenha uns favores para cobrar. Nunca daria para chutar que se trata de Fisher Stevens, um coadjuvante habitual mais visto na TV (como em Early Edition e Lost) e com experiência na direção em apenas um longa metragem, Foi Só um Beijo (Just a Kiss, 2002). Ele esteve numa produção nacional, O Que É Isso, Companheiro?, que também conta com Arkin. Talvez, como ator, Stevens tenha de fato esses contatos. Ou, apenas, podemos supor que Pacino, Walken e Arkin imaginaram que seria divertido aprontar em grande estilo mais uma vez, como nos bons tempos.